Baixar - Brasiliana USP
Baixar - Brasiliana USP
Baixar - Brasiliana USP
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pensei que teu pae fosse tão pacificamente<br />
mau ! Estou arrependida de<br />
ter aqui voltado, crê!<br />
Olympia não se animou a objectar<br />
uma palavra em defesa do commendador.<br />
— Sei que, mereço censura, accrescentou<br />
a enferma, com a voz fraca e<br />
infeliz.—Sei quecommetti uma falta,<br />
mas a minha conducta de então para<br />
cá devia obter o meu perdão. Elie<br />
sabe perfeitamente que já estou arrependida,<br />
por que n'esse caso não me<br />
trata de outro modo?!... Oh! eu<br />
me sinto tão aborrecida, tão triste,<br />
que não me posso preoccupar com a<br />
idéa de sua vingança. E, todavia, preciso<br />
agora, mais do que nunca, de<br />
carinhos e de agrados. Estou doente,<br />
sinto que estou muito mal, porque<br />
elle me não vem ver?... por que não<br />
me vem dar duas. palavras de animação?<br />
Isso não seria também tão<br />
grande sacrifício ! Uma obra de misericórdia,<br />
que diabo!<br />
E, depois de fitar por algum tempo<br />
um mesmo ponto, com as mãos engransadasnas<br />
de Olympia, disse-lhe<br />
sem transicção. — Nunca to cases se<br />
não com um homem de edade proporcionada<br />
á tua. Não commettas<br />
essa leviandade. Por melhor que seja<br />
o teu caracter, por mais perfeito que<br />
seja o teu coração, por mais senhora<br />
que fores de teu temperamento, de<br />
teus desejos e de tuas aspirações,<br />
nunca darás uma esposa perfeita, se<br />
ao teu casamento não presidirem o<br />
amor em primeiro lugar, depois a<br />
afinação completa de edades, de espirito<br />
e de educação. Não calculas o<br />
inferno em que vive uma mulher<br />
moça casada com um velho! Não<br />
é simplesmente o facto de lhe não<br />
dar o marido o amor de que ella<br />
2í<br />
MYSTERIO DA TIJUCA 169<br />
precisa para viver, mas também a<br />
desgraçada circumstancia de que esse<br />
casamento a inutilisa para o amor de<br />
qualquer um outro homem.<br />
Olympia ouvia as palavras da madrasta,<br />
com os olhos muito abertos e<br />
a physionomia transcedente de curiosidade.<br />
Era a primeira vez que Thereza<br />
se queixava do commendador e deixava<br />
transparecer d'aquella fôrma o<br />
azedume de seus desgostos.<br />
— O amante, proseguiu a miWrasta,<br />
também não satisfaz, porque não<br />
nos pôde dar o que constitue nossa<br />
felicidade em questões de amor. O<br />
marido velho está em uma extremidade,<br />
o amante está na outra; não<br />
podem attingir ao meio termo, o centro<br />
calmo de um amor legitimo,<br />
digno è completo, que é onde encontramos<br />
a verdadeira ventura, o<br />
gozo placido% duradouro da existência.<br />
Só um marido moço, amigo, com<br />
o seu destino ligado ao nosso, a sua<br />
dignidade entrelaçada com a nossa<br />
dignidade, pôde collocar-se n'esse<br />
meio termo de que íallei. E' preciso<br />
que o casal caminhe de mãos<br />
dadas para a velhice, unidos, seguros;<br />
o affecto dos dois deve ir escoltado<br />
por elles, como um pássaro precioso<br />
que pôde fugir no caminho. Isso só<br />
se consegue com o casamento proporcionado.<br />
Ao contrario, no melhor da<br />
viagem, um deixa o outro no meio da<br />
estrada. O amante não pôde sequer<br />
comprehender o valor d'essa affeição<br />
solidaria, útil e sem transportes. Elle,<br />
nada arrisca, nada compromette no<br />
seu amor, para desejar conserval-o<br />
puroe digno. A idéa de que o marido<br />
consiga agradar a mulher com as suas<br />
ternuras, é o bastante para leval-o a<br />
imaginar meios e modos de supplan—<br />
tar o rival. Elle faz o que o marido,