a saúde mental na atenção básica - Biblioteca Digital de Teses e ...
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usuário em crise, estão mais conso<strong>na</strong>ntes com a crença e valorização do hospital<br />
como um lugar que, para além <strong>de</strong> resolver a <strong>de</strong>manda do usuário, alivia a família do<br />
sofrimento e da convivência com a doença <strong>mental</strong>, conforme observado a seguir:<br />
Olha, eu acho assim que a proposta <strong>de</strong> mudança é boa, mas é uma coisa<br />
que muita gente não aceita e não concorda. Então, assim, agente ouve<br />
muitas falas, principalmente <strong>de</strong> usuários, <strong>de</strong> familiares <strong>de</strong> usuários, que<br />
chega aqui e falam assim: Oh! eu quero inter<strong>na</strong>r esse paciente, eu não<br />
agüento mais, eu sei que lá no hospital ele fica melhor. Lá resolve (E4).<br />
Este tema não é novo. A chancela institucio<strong>na</strong>l ainda é reconhecida como<br />
uma medida <strong>de</strong> segurança para o usuário, sobrepondo à complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses<br />
espaços, conhecidos pela sua clínica <strong>de</strong>gradada, um contraponto à Reforma.<br />
A análise dos dados permite inferir que a assistência psiquiátrica ainda<br />
não conseguiu romper com a crença do po<strong>de</strong>r das instituições hospitalares para<br />
equacio<strong>na</strong>r as <strong>de</strong>mandas psiquiátricas. Mesmo o hospital sendo consi<strong>de</strong>rado<br />
obsoleto, ineficaz, iatrogênico, com um po<strong>de</strong>r que captura e exclui os direitos<br />
humanos fundamentais a qualquer cidadão, ainda assim se encontra muito presente<br />
<strong>na</strong> socieda<strong>de</strong>. Explica Saraceno:<br />
O hospital psiquiátrico constitui ainda, em qualquer parte do mundo, o eixo<br />
da assistência psiquiátrica, o lugar suposto do tratamento, a máqui<strong>na</strong><br />
hegemônica que <strong>de</strong>vora a maior parte dos recursos humanos e fi<strong>na</strong>nceiros<br />
alocados para a assistência dos doentes mentais (SARACENO, 1999:62).<br />
Contudo, assi<strong>na</strong>la-se que o papel hegemônico do hospital psiquiátrico foi<br />
colocado em questão há mais <strong>de</strong> cinquenta anos, e dispositivos <strong>de</strong> tratamento e<br />
assistência foram criados, acio<strong>na</strong>ndo diferentes formas para assistir os usuários da<br />
Saú<strong>de</strong> Mental, ao lado, <strong>de</strong> outros paradigmas que contemplam a complexida<strong>de</strong> dos<br />
agravos.<br />
Os dados revelaram que esse ‘novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> assistência’ posicio<strong>na</strong> a<br />
família <strong>na</strong> linha <strong>de</strong> frente do cuidado. Para os entrevistados, esses familiares<br />
acabaram arcando com o pesado ônus <strong>de</strong>corrente dos problemas políticos e<br />
administrativos da implementação da reforma. Eles comentam que, mesmo<br />
concordando <strong>de</strong> seus princípios, muitos familiares querem o retorno à assistência<br />
psiquiátrica hospitalar<br />
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