a saúde mental na atenção básica - Biblioteca Digital de Teses e ...
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Construir uma noção <strong>de</strong> cuidado e cuidar a partir <strong>de</strong>sses princípios tem<br />
sido um <strong>de</strong>safio no cotidiano para todos os atores envolvidos, uma vez que a lógica<br />
que orienta o processo <strong>de</strong> trabalho <strong>na</strong> SM advém <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo fortemente marcado<br />
pelo caráter clínico <strong>de</strong> enfoque individualista, pela doença e pela medicalização.<br />
Ainda que os problemas <strong>de</strong> <strong>saú<strong>de</strong></strong> sejam reconhecidos como<br />
multicausais, prepon<strong>de</strong>ra o mo<strong>de</strong>lo biomédico. A supremacia do saber/po<strong>de</strong>r da<br />
profissão médica sobre os <strong>de</strong>mais profissio<strong>na</strong>is <strong>na</strong> condução da terapêutica continua<br />
mantendo certo espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e domínio <strong>de</strong> conhecimentos. Tradicio<strong>na</strong>lmente,<br />
o atendimento ao usuário da SM esteve sob a tutela <strong>de</strong> psiquiatras e psicólogos.<br />
Os dados permitem inferir, no entanto, que <strong>na</strong> SM, no espaço do<br />
CERSAM, isso se encontra mais diluído, uma vez, que o trabalho é realizado por<br />
equipes multidiscipli<strong>na</strong>res, compostas por assistente social, enfermeiro, médico,<br />
psicólogo e terapeuta ocupacio<strong>na</strong>l, entre outros, o que constitui uma questão<br />
inovadora no processo. A participação <strong>de</strong> outros técnicos no tratamento trouxe a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outras relações e experiências com a loucura, ancoradas <strong>na</strong>s<br />
reuniões <strong>de</strong> equipe, que acontecem em todos os serviços e tem dado sustentação a<br />
política <strong>de</strong> SM (SILVEIRA; ALVES, 2003).<br />
A prepon<strong>de</strong>rância do profissio<strong>na</strong>l médico <strong>na</strong> condução terapêutica dos<br />
casos da SM impera no PSF. A ação médica parece se tor<strong>na</strong>r imprescindível.<br />
Possivelmente, pela certeza <strong>de</strong> que a intervenção química é inevitável e legalmente<br />
vetada aos <strong>de</strong>mais membros da equipe. Observa-se aqui um paradoxo, pois mesmo<br />
contando com uma equipe para o trabalho, em realida<strong>de</strong>, busca-se segurança no<br />
saber/po<strong>de</strong>r médico<br />
Quando o usuário entra pelo PSF, o próprio médico vai passar a medicação.<br />
Agora os casos que são os mais graves, ele vai encaminhar para o<br />
psiquiatra. A agenda do psiquiatra, você imagi<strong>na</strong>, é lotada, a <strong>de</strong>manda é<br />
muito gran<strong>de</strong> (E12).<br />
Há que se consi<strong>de</strong>rar que, diferentemente do que acontece em relação<br />
aos outros agravos, <strong>na</strong> SM os <strong>de</strong>mais profissio<strong>na</strong>is não dispõem <strong>de</strong> protocolos<br />
clínicos que preveem as condutas, incluindo a prescrição <strong>de</strong> medicamentos. A<br />
especificida<strong>de</strong>, inclusive legal, da prescrição <strong>de</strong> psicofármacos, unida ao<br />
<strong>de</strong>sconhecimento que leva os profissio<strong>na</strong>is a acreditarem <strong>na</strong> intervenção<br />
medicamentosa como a única possível ou eficaz, acaba por eleger o profissio<strong>na</strong>l<br />
médico como aquele que dispõe <strong>de</strong> tecnologia para realizar intervenções.<br />
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