literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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2 Éle Semog. Ca<strong>de</strong>rnos Negros, 1996, n. 19, p.54.<br />
3<br />
I<strong>de</strong>m, p.55.<br />
Sobre os enganos produzidos por um tipo <strong>de</strong> olhar que aprisiona<br />
o negro em imagens aparentemente positivas (o negro atleta,<br />
o negro viril, o negro muito educado ou a mulata exuberante),<br />
os versos do poema “Dançando negro”, publicado no Ca<strong>de</strong>rnos<br />
Negros n. 19, <strong>de</strong> 1996, procuram acentuar uma outra estética:<br />
118 Literatura afro-brasileira<br />
Não sou festa para os teus olhos<br />
<strong>de</strong> branco diante <strong>de</strong> um show!<br />
Quando eu danço há infusão dos elementos<br />
sou razão.<br />
O meu corpo não é objeto,<br />
sou revolução. 2<br />
Ao se negar a ser apenas “festa para os olhos” <strong>de</strong> turistas<br />
maravilhados ou <strong>de</strong> pessoas que, fora do espetáculo, continuam a<br />
discriminar o negro, os versos também ironizam comportamentos<br />
submissos que procuram se a<strong>de</strong>quar aos olhos viciados. Essa mesma<br />
motivação que mostra o corpo negro em evolução, mas não em<br />
exibição, fica explícita no poema “Outras notícias”, também publicado<br />
no Ca<strong>de</strong>rnos Negros nº 19, <strong>de</strong> 1996. Nesse poema, os versos<br />
expressam uma crítica explícita à <strong>literatura</strong> produzida sem nenhum<br />
compromisso com as questões sociais, com exclusão e com a violência<br />
que atingem, em maior grau, as classes pobres.<br />
Não vou às rimas como esses poetas<br />
que salivam por qualquer osso.<br />
Rimar Ipanema com morena<br />
é moleza,<br />
quero ver combinar prosaicamente<br />
flor do campo com Vigário Geral,<br />
ternura com Carandiru,<br />
ou menina carinhosa/trem para Japeri.<br />
Não sou <strong>de</strong>sses poetas<br />
que se arribam, se arrumam em coquetéis<br />
e se esquecem do seu povo lá fora. 3<br />
É interessante observar no poema referências explícitas a lugares<br />
em que a exclusão se mostra em vários significados. É interessante<br />
observar também a utilização do recurso da ironia nos versos<br />
“rimar Ipanema com morena/é moleza” ou a intencional provoca-