literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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Câmara Cascudo <strong>de</strong>fine as Congadas como autos que carregam<br />
na sua origem os cortejos e embaixadas, reminiscências <strong>de</strong> danças representativas<br />
<strong>de</strong> lutas guerreiras protagonizadas pela rainha Nzinga Mbandi, bem<br />
como a coroação dos “Reis do Congo”. 9<br />
Os “Reis <strong>de</strong> Congo” eram eleitos pelos negros <strong>de</strong> variadas<br />
etnias que integravam as irmanda<strong>de</strong>s afrocatólicas <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
do Rosário como uma forma muito especial <strong>de</strong> contar um<br />
aspecto importante da história africana no Brasil.<br />
Quando a festa se tornou um perigo<br />
para o colonizador<br />
As Congadas, como cerimônia permitida, tiveram seu início marcado<br />
pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter sob controle o enorme contingente<br />
<strong>de</strong> escravos urbanos espalhados, trabalhando <strong>de</strong> ganho ou <strong>de</strong> aluguel,<br />
soltos e sempre maquinando pela liberda<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> 1674 já<br />
aconteciam no Brasil as cerimônias <strong>de</strong> coroação dos Reis do Congo.<br />
Um rei eleito pelos negros sugeria um passatempo simplório entre<br />
as inúmeras etnias. Para os brancos, esta era uma diversão grotesca<br />
e motivo para ridicularizar os negros no que lhes parecia<br />
absurdo: um rei negro. 10<br />
De fato, o povo negro aproveitou não só este pretexto como<br />
tantos outros, incluindo as celebrações do cristianismo, os autos<br />
europeus e ameríndios e as estratégias escravagistas para, usando a<br />
sabedoria, dar continuida<strong>de</strong> a sua história e memória coletiva, fortalecendo<br />
o seu grupo e formando suas li<strong>de</strong>ranças.<br />
Numa só manifestação é possível encontrar marcas das culturas<br />
negras, brancas e indígenas, formadoras do povo brasileiro.<br />
As congadas se realizam com a presença dos marujos, que representam<br />
o po<strong>de</strong>r do colonizador; os cabocolinhos, que representam<br />
os donos da terra e, por fim, os reis negros, representantes<br />
das culturas africanas.<br />
Assim <strong>de</strong>screve Leda Martins 11 as congadas que ocorrem<br />
em Minas Gerais:<br />
De março, quando em geral os rosários são abertos, até fins<br />
<strong>de</strong> outubro, quando então os reinos se recolhem e se fecham,<br />
Literatura afro-brasileira 91<br />
9 CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore<br />
brasileiro. São Paulo: Melhoramentos, 1980.<br />
p.242.<br />
10 LOPES, Nei. Bantos, malês e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> negra. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Forense Universitária, 1988, p.150- 151.<br />
11 MARTINS, Leda. <strong>Afro</strong>grafias da memória. São<br />
Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza, 1997,<br />
p.36.