16.04.2013 Views

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Em Diário <strong>de</strong> Bitita (1982), Carolina <strong>de</strong> Jesus conta lembranças<br />

da infância e adolescência. Fala das andanças em busca <strong>de</strong><br />

trabalho. Deixa vir à tona sua visão <strong>de</strong> mundo, suas experiências,<br />

suas opiniões.<br />

O livro foi publicado somente após a morte <strong>de</strong> Carolina.<br />

Conta-se que em 1977, pobre e longe das luzes que lhe <strong>de</strong>ram<br />

notorieda<strong>de</strong>, pouco tempo antes <strong>de</strong> sua morte, Carolina recebeu a<br />

visita <strong>de</strong> jornalistas estrangeiros para entrevistá-la. Ela entregou<br />

aos jornalistas dois ca<strong>de</strong>rnos manuscritos, que, segundo consta,<br />

compõem o Diário <strong>de</strong> Bitita.<br />

O livro, embora tenha a palavra diário, no título, não traz relatos<br />

do dia-a-dia, datados, em seqüência, como em Quarto <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo.<br />

O livro é dividido em capítulos por temáticas, e os conteúdos <strong>de</strong>stes<br />

se <strong>de</strong>senvolvem conforme as lembranças daquela temática. Vejamos<br />

um pouco do que o livro traz no capítulo Os negros.<br />

O branco criou a alta socieda<strong>de</strong>, lá não entra o negro.<br />

Só a terra é que não tem orgulho. No mundo a humanida<strong>de</strong><br />

nasce e morre. Quando o homem está vivo,<br />

vive com os cereais que saem da terra. E quando morre<br />

vai para o seio da terra. Ela não fala, mas é sábia. É<br />

a melhor obra <strong>de</strong> Deus.<br />

Eu gostava <strong>de</strong> frutas, mas era difícil conseguir dinheiro<br />

para comprá-las. Eu já estava notando que o<br />

pobre vive mais com as pretensões.<br />

Um dia ouvi a minha mãe contando que o meu tio<br />

Joaquim estava tomando água numa torneira pública<br />

– o chafariz – quando o filho do Juca Barão chegou<br />

e disse-lhe:<br />

— Sai daí negro sujo! Quem <strong>de</strong>ve beber água primeiro<br />

sou eu, que sou branco – e empurrou meu tio, que<br />

ficou nervoso e retirou uma faquinha <strong>de</strong> arco <strong>de</strong> barril<br />

que ele fez , e <strong>de</strong>u um golpe na nuca do filho do Juca<br />

Barão, que caiu no solo sem vida.<br />

O meu tio não foi preso por ser menor.<br />

O juiz <strong>de</strong> direito era o doutor Brand. Os brancos reuniram-se<br />

e foram xingar o vovô:<br />

— Agora que os negros são livres, vão matar os brancos<br />

e já são protegidos pela lei.<br />

Literatura afro-brasileira 149

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!