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literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

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Nesse ritual <strong>de</strong> reverência à palavra, os poemas se constroem<br />

em íntima relação não apenas com a tradição popular <strong>de</strong> que<br />

se nutrem, mas — talvez principalmente — com a recolha <strong>de</strong> heranças<br />

<strong>de</strong>ixadas por diferentes tradições africanas, nas quais a palavra<br />

viva, os gestos e os ritmos têm função importante. Neste<br />

sentido, o universo poético explorado pelo poeta é sempre um<br />

resgate <strong>de</strong> experiências vividas, <strong>de</strong> tradições populares, <strong>de</strong> modos<br />

<strong>de</strong> ouvir e <strong>de</strong> ver o mundo. Mesclam-se, nos vários livros do poeta<br />

mineiro, tanto as referências ao “mundo encaixado”, que o poetapesquisador<br />

vasculha com ouvidos e olhos atentos às manifestações<br />

<strong>de</strong> costumes e especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Minas Gerais, mas também<br />

<strong>de</strong> várias outras partes do mundo, quanto as sonorida<strong>de</strong>s que falas,<br />

ritmos, canções emprestam à feitura dos poemas. Assim, a<br />

retomada <strong>de</strong> diferentes rituais se faz pela “palavra escolhida”, mas<br />

também pelas andanças em universos on<strong>de</strong> cenas da história se<br />

cristalizam em monumentos, quadros, objetos, casarões. Veja como<br />

no poema “Recitação”, do livro Zeosório Blues (2002), são retomados<br />

dados da relação entre senhores e escravos no Brasil colonial:<br />

Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Sebastiam do Rio <strong>de</strong> Janeiro as músicas para<br />

as festas do Divino não eram rosas. Mas <strong>de</strong>sconcerto, segundo o<br />

ritmo dos barbeiros. Se, na condição <strong>de</strong> escravo, um <strong>de</strong>veria amestrar<br />

o violino para os senhores, o melhor era jogar, ser barbeiro<br />

por ofício, mas senhor <strong>de</strong> suas notas. Do mais, o Divino se encarrega,<br />

quando o outro nome da festa é contenda (p. 131).<br />

Ativida<strong>de</strong>s:<br />

1 Observe as referências, no poema, a fatos concretos<br />

das relações entre senhores e escravos no Brasil<br />

colonial. Compare essas referências com imagens<br />

feitas por artistas viajantes que visitaram o<br />

Brasil em diferentes épocas. Uma boa fonte <strong>de</strong> consulta<br />

é o livro A Travessia da Calunga Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Carlos<br />

Eugênio Marcon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Moura, publicado em 2000.<br />

2 Comente os sentidos sugeridos pelo trecho “Se na condição<br />

<strong>de</strong> escravo, um <strong>de</strong>veria amestrar o violino para<br />

os senhores, o melhor era jogar, ser barbeiro por ofício,<br />

mas senhor <strong>de</strong> suas notas”, prestando bem atenção<br />

no duplo sentido dado ao verbo “jogar” e nas<br />

alusões feitas, pelo texto, às artes indicados no trecho.<br />

Literatura afro-brasileira 137

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