literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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Mestre Didi. Alapini, Sacerdote Supremo do Culto<br />
Egungun, escritor e artista plástico.<br />
Egungun. Ancestral, ou seja, herança espiritual da<br />
comunida<strong>de</strong> religiosa, on<strong>de</strong> o culto é praticado.<br />
7<br />
SANTOS, Deoscore<strong>de</strong>s M. dos. Contos negros da<br />
Bahia e Contos nagô. Salvador: Corrupio, 2003, p. 125.<br />
Mestre Didi: contando histórias que mantêm viva<br />
a nossa tradição<br />
Mestre Didi <strong>de</strong>scen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma antiga linhagem <strong>de</strong> sacerdotes<br />
Ketu-Nagô, iniciado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua infância no culto aos ancestrais,<br />
os Egungun, por africanos e afro-baianos. Investido <strong>de</strong> altos títulos<br />
e funções, buscou sempre — através <strong>de</strong> livros, ensaios e filmes<br />
— preservar e divulgar a sua herança cultural. Firmou-se como<br />
lí<strong>de</strong>r notável <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong> e porta-voz autorizado <strong>de</strong> sua<br />
tradição. Além <strong>de</strong> reproduzir contos da tradição oral, ele é um<br />
gran<strong>de</strong> escultor.<br />
Mestre Didi transmite, por escrito, em seus livros <strong>de</strong> contos7<br />
e dramatizações — peças teatrais e autos coreográficos —<br />
ensinamentos que circulavam oralmente na sua comunida<strong>de</strong> e<br />
que apren<strong>de</strong>u <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua infância. É o espírito <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> que<br />
fala por seu intermédio. Ele transforma sua vivência em uma singular<br />
<strong>literatura</strong> escrita, recriando formas e conteúdos narrativos, o<br />
acervo oral da tradição Nagô, preservando suas ricas e complexas<br />
elaborações simbólicas. Muitos <strong>de</strong> seus contos foram traduzidos<br />
e publicados em revistas e antologias nacionais e estrangeiras.<br />
No ano <strong>de</strong> 2004, o Núcleo Cultural Níger Okán publicou uma<br />
edição trilíngüe (português, inglês e yorubá) dos Contos crioulos da<br />
Bahia, <strong>de</strong> autoria do Mestre Didi. Em mais <strong>de</strong> 20 contos que<br />
reatualizam aspectos da tradição ioruba que permaneceram na vida<br />
cultural dos afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes na Bahia, os leitores são colocados<br />
em contato com uma série <strong>de</strong> elementos das tradições culturais<br />
afro-brasileiras.<br />
86 Literatura afro-brasileira<br />
O pobre peregrino<br />
Mestre Didi<br />
Era uma vez um pobre homem que vivia a peregrinar<br />
por toda cida<strong>de</strong>; em cada lugar que chegava, com<br />
muita dificulda<strong>de</strong> conseguia sempre um lugarzinho<br />
para fazer uma rocinha. Depois que arrumava a<br />
rocinha com plantações e até mesmo com muitas<br />
criações, mandavam-no embora, ficando os donos das<br />
terras senhores <strong>de</strong> tudo que ele tinha feito. Por conselho<br />
<strong>de</strong> um velho amigo, que sabia <strong>de</strong> sua vida, e