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literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

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te os símbolos para que a cida<strong>de</strong> comece a existir. A epígrafe é tomada<br />

ao escritor nascido em Cuba, mas que logo após o nascimento<br />

foi viver na Itália, Ítalo Calvino, e ressalta a importância <strong>de</strong> atos<br />

que forcem as lembranças e evitem que os dados do passado se<br />

percam para sempre. O poema explora várias imagens para nomear<br />

os vários caminhos pelos quais é possível chegar a Saubara,<br />

cida<strong>de</strong> do recôncavo baiano, e relembra os caminhos simbólicos<br />

para se chegar a Saubara: os do mar, os do rio, os da fé. Os do<br />

mar recuperam fragmentos da memória da escravidão, a “travessia<br />

<strong>de</strong> longínquas noites” <strong>de</strong> “gentes, trapos e mercadorias”<br />

que os tumbeiros contraban<strong>de</strong>avam da África. Os do rio relembram<br />

a visão predatória dos mercadores que inva<strong>de</strong>m a terra<br />

africana em busca <strong>de</strong> riqueza. A eles se misturam os caminhos da<br />

fé, das heranças religiosas que os africanos nos legaram. No poema<br />

Saubara, revela-se o local <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> muitas lembranças,<br />

mas também o lugar on<strong>de</strong> se efetuam misturas culturais que<br />

herdamos e cultuamos. Saubara é, no poema, o símbolo <strong>de</strong>ssas<br />

misturas que formam os afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes.<br />

As Saubaras Invisíveis<br />

A memória é redundante: repete os símbolos para<br />

que a cida<strong>de</strong> comece a existir.<br />

(Ítalo Calvino)<br />

Chega-se a Saubara pelo caminho do mar<br />

A velas, barcas velhas velejam rumo à baía.<br />

Viagem <strong>de</strong> gentes, trapos, mercadorias,<br />

Odores repelentes que recen<strong>de</strong>m tumbeiros<br />

Travessia <strong>de</strong> longínquas noites<br />

(“Aquela viagem era uma eternida<strong>de</strong>!”)<br />

que ao vento cabia a tarefa <strong>de</strong> um porto feliz.<br />

Chega-se a Saubara por via <strong>de</strong> muitos rios<br />

Do rio para o mangue, do mangue-rio para o mar.<br />

Caminhos do leva-e-traz mercantil<br />

Ao porto <strong>de</strong> amaros negócios<br />

Percurso <strong>de</strong> antigos navegantes<br />

Fundadores do eterno dar-se saubarense<br />

Desbravadores <strong>de</strong> restos da flora e fauna do lugar.<br />

Chega-se, finalmente, a Saubara pelo primado da fé.<br />

Seus marujos e reza<strong>de</strong>iras procuram, há muito,<br />

Literatura afro-brasileira 139

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