16.04.2013 Views

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

16<br />

Edmilsom <strong>de</strong> Almeida Pereira. Corpo vivido, 1991,<br />

p.135.<br />

136 Literatura afro-brasileira<br />

Ô Mama, Mama Kitaia<br />

Calunga lungara ê.<br />

A vida <strong>de</strong> você ia além<br />

da roça e das panelas.<br />

ia <strong>de</strong>pois do algodão<br />

do milho nas colheitas<br />

O que você entendia<br />

não ficava nas ribeiras.<br />

E menos na espuma<br />

<strong>de</strong> roupas na janela.<br />

A sensibilida<strong>de</strong> para trabalhar com o material que a pesquisa<br />

<strong>de</strong> cunho antropológico lhe forneceu e a disponibilida<strong>de</strong> para escutar<br />

as estórias contadas pelos mais-velhos, filtradas por interditos e<br />

superstições, estão em alguns <strong>de</strong> seus poemas. Neles, a palavra escrita<br />

dialoga com sonorida<strong>de</strong>s da fala, com movimentos do corpo e<br />

ajuda a elaborar um trabalho poético que é tecido com um material<br />

sonoro muito evi<strong>de</strong>nte. Talvez se possa dizer que a palavra poética<br />

<strong>de</strong> Edimilson Pereira, distanciada já da oralida<strong>de</strong> concreta, conserva<br />

muito sopro melódico que a fala, a música, as cantigas conservam.<br />

É nesse reservatório natural da voz, da melodia, da palavra “quase<br />

cantada” apreendida pelos ouvidos que se inserem os versos do<br />

poema “Mário Brás da Luz”, do livro Corpo Vivido (1991).<br />

Houve um tempo para<br />

cantar<br />

e saber as palavras<br />

(hora profunda).<br />

Quem fala não é a língua<br />

nem são os olhos<br />

Os ouvidos se acen<strong>de</strong>m<br />

esperam a quebra do tempo.<br />

O silêncio cai <strong>de</strong> súbito<br />

num bailado <strong>de</strong> flor<br />

Agora é o susto<br />

o corpo todo acorda.<br />

Alegria vê-lo<br />

no escuro.<br />

E as palavras vão nascendo. 16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!