16.04.2013 Views

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Nelson> parar no giro <strong>de</strong> mão/ isso não me assusta não/<br />

sou forte que nem tornado/ vôo e dou um pião/ me transformo<br />

em tempesta<strong>de</strong>/ te jogo lá pro sertão/<br />

Thaí<strong>de</strong>> valeu , Nelsão, você é muito bom<br />

Nelson> falou, Thaí<strong>de</strong>, você é bom também/ então vamos<br />

apertar as mãos/ porque no rap embolada não tem pra<br />

ninguém<br />

Ninguém per<strong>de</strong>u/ todo mundo ganhou/ pois o povo apren<strong>de</strong>u<br />

com o cantador/ veja aí meu povo/ vem do mesmo ovo/<br />

o rap e o repente/ o neto e o avô. 11<br />

De repente: repente<br />

No Brasil, há aqueles que afirmam que a tradição medieval ibérica<br />

dos trovadores <strong>de</strong>u origem aos cantadores – ou seja, poetas populares<br />

que vão <strong>de</strong> região em região, com a viola nas costas, para<br />

cantar os seus versos. Eles apareceram nas formas da trova gaúcha,<br />

do calango (Minas Gerais), do cururu (São Paulo), do samba<br />

<strong>de</strong> roda (Rio <strong>de</strong> Janeiro) e do repente nor<strong>de</strong>stino. Porém, no livro<br />

Amkoullel, o menino fula, Amadou Hampâté Ba mostra que o <strong>de</strong>safio<br />

em forma <strong>de</strong> versos remonta à tradição oral africana.<br />

Tanto o repente nor<strong>de</strong>stino, quanto o samba <strong>de</strong> roda, se<br />

caracterizam pelo improviso — os cantadores fazem os versos<br />

“<strong>de</strong> repente”, em um <strong>de</strong>safio com outro cantador. Não importa a<br />

beleza da voz ou a afinação — o que vale é o ritmo e a agilida<strong>de</strong><br />

mental que permita encurralar o oponente apenas com a força do<br />

discurso.<br />

Em Amkoullel, o menino fula, o autor Amadou Hampâté<br />

Ba conta suas recordações <strong>de</strong> infância e juventu<strong>de</strong> com a impressionante<br />

riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes registrados pela prodigiosa memória<br />

<strong>de</strong> alguém que se formou sem escrita e com a <strong>de</strong>liciosa fluência<br />

e simplicida<strong>de</strong> dos narradores orais. Ele viveu no Mali e sua<br />

visão <strong>de</strong> mundo é marcada pelo Islamismo predominante na região<br />

que, a partir do século XIX, foi colônia da França. A publicação<br />

<strong>de</strong>sta obra no Brasil revela uma África <strong>de</strong>sconhecida, o<br />

que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser paradoxal para um país profundamente vin-<br />

Literatura afro-brasileira 203<br />

11 Thaí<strong>de</strong> e DJ Hum, CD Assim Caminha a Humanida<strong>de</strong>,<br />

São Paulo: Trama, 2001.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!