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literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

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25 O romance <strong>de</strong> Maria Firmina dos Reis foi recentemente<br />

reeditado sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />

Eduardo <strong>de</strong> Assis Duarte. V.: REIS, Maria Firmina<br />

dos. Úrsula: a escrava. Florianópolis: Mulheres;<br />

Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.<br />

26 REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. Florianópolis:<br />

Ed. Mulheres; Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.<br />

Maria Firmina Dos Reis nasceu no Maranhão e foi professora.<br />

Publicou o romance Úrsula, em 1859. 25 Nesse romance, confere<br />

aos escravos gran<strong>de</strong> participação, <strong>de</strong>monstrando forte preocupação<br />

abolicionista. É importante ressaltar que o romance foi escrito<br />

por uma mulher negra e em uma região geralmente <strong>de</strong>sfavorecida<br />

economicamente. Alguns críticos consi<strong>de</strong>ram que Maria Firmina<br />

dos Reis iniciou, ao lado <strong>de</strong> Luiz Gama, o que se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />

como <strong>literatura</strong> afro-brasileira. Os seus personagens negros emitem<br />

opiniões sobre a escravidão e conceitos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Por exemplo,<br />

no capítulo 9 do romance citado, A Preta Susana, a personagem<br />

mãe Susana aconselha o escravo Túlio, que ganhara a promessa<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um outro senhor:<br />

A africana limpou o rosto com as mãos, e um momento<br />

<strong>de</strong>pois exclamou:<br />

— Sim, para que estas lágrimas?!... Dizes bem1 Elas<br />

são inúteis, meu Deus; mas é um tributo <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>,<br />

que não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>r a tudo que me foi<br />

caro! Liberda<strong>de</strong>! Liberda<strong>de</strong>... ah! eu a gozei na minha<br />

mocida<strong>de</strong>! — continuou Susana com amargura —<br />

Túlio, meu filho, ninguém a gozou mais ampla, não<br />

houve mulher alguma mais ditosa do que eu. Tranqüila<br />

no seio da felicida<strong>de</strong>, via <strong>de</strong>spontar o sol rutilante<br />

e ar<strong>de</strong>nte do meu país, e louca <strong>de</strong> prazer a essa hora<br />

matinal, em que tudo respira amor, eu corria às <strong>de</strong>scarnadas<br />

e arenosas praias, e aí com minhas jovens<br />

companheiras, brincando alegres, com o sorriso nos<br />

lábios, a paz no coração, divagávamos em busca das<br />

mil conchinhas, que bordam as brancas areias daquelas<br />

vastas praias. Ah! meu filho! Mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>ram-me<br />

em matrimônio a um homem, que amei como<br />

a luz dos meus olhos, e como penhor <strong>de</strong>ssa união<br />

veio uma filha querida, em quem me revia, em quem<br />

tinha <strong>de</strong>positado todo o amor da minha alma: — uma<br />

filha, que era a minha vida, as minhas ambições, a<br />

minha suprema ventura, veio selar a nossa tão santa<br />

união. E esse país <strong>de</strong> minhas afeições, e esse esposo<br />

querido, essa filha tão extremamente amada, ah Túlio!<br />

Tudo me obrigaram os bárbaros a <strong>de</strong>ixar! Oh! Tudo,<br />

tudo até a própria liberda<strong>de</strong>! 26<br />

Tanto os poetas como os prosadores e jornalistas negros<br />

revelam um gran<strong>de</strong> dilema em seus textos: assumir-se negro no<br />

72 Literatura afro-brasileira

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