literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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Os autores dos Ca<strong>de</strong>rnos Negros buscaram dar visibilida<strong>de</strong> à<br />
sua produção e ampliaram a reflexão sobre a condição <strong>de</strong> trabalho<br />
dos escritores negros, sobre a circulação <strong>de</strong> seus textos, a<br />
marginalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa produção e a linguagem com que se expressam.<br />
Numa criação literária mais preocupada com a função social<br />
do texto, interessa-lhes, sobretudo, a vida dos excluídos por razões<br />
<strong>de</strong> natureza étnico-racial. A relação entre cor e exclusão passa<br />
a ser recorrente na produção literária <strong>de</strong>nominada pela crítica<br />
como negra ou afro-brasileira.<br />
Na antologia Poesia negra brasileira (1992), 3 a expressão “<strong>literatura</strong><br />
negra” convive com outras visões e conceitos. No prefácio,<br />
o teórico e poeta Domício Proença Filho alu<strong>de</strong> aos “elementos<br />
afro-brasileiros postos em evidência” na poesia <strong>de</strong> Lino Gue<strong>de</strong>s<br />
(p. 8); na página 9, uma epígrafe extraída da obra do poeta angolano<br />
Ruy Duarte <strong>de</strong> Carvalho, mesmo afirmando o “princípio do<br />
princípio da palavra”, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> indicar mudanças sugeridas<br />
por vocábulos como “torrente”, “renovar-se”, “movimento”.<br />
Como se percebe, mesmo se afirmando como uma coletânea <strong>de</strong><br />
poesia negra, a antologia articula vozes que expõem misturas,<br />
mesclagens, convivências.<br />
Durante muito tempo, essa antologia foi uma das obras mais<br />
estudadas em cursos <strong>de</strong> <strong>literatura</strong> que assumiam a produção <strong>de</strong><br />
escritores negros e afro-brasileiros. A antologia Poesia negra brasileira<br />
é dividida em partes que procuram mapear, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX,<br />
expressões significativas da <strong>literatura</strong> comprometida com a situação<br />
do negro no Brasil.<br />
Na parte relativa ao século XIX, a antologia registra alguns<br />
poemas do abolicionista Luiz Gama, que representa a poesia negra<br />
na fase pré-abolicionista. Cruz e Souza é o gran<strong>de</strong> nome da<br />
poesia negra na fase pós-abolicionista, juntamente com Lino<br />
Gue<strong>de</strong>s, que publicou suas obras na época do Mo<strong>de</strong>rnismo, embora<br />
não tenha a<strong>de</strong>rido ao movimento.<br />
No intitulado “Período contemporâneo”, a organizadora recolhe<br />
poemas <strong>de</strong> diferentes tendências da chamada “<strong>literatura</strong> <strong>de</strong><br />
resistência” (p. 45). Sob o nome “Consciência resistente”, agrupam-se<br />
poemas <strong>de</strong> Solano Trinda<strong>de</strong>; “Consciência dilacerada” acolhe<br />
poemas <strong>de</strong> Eduardo Oliveira, Oswaldo <strong>de</strong> Camargo e Domício<br />
Literatura afro-brasileira 17<br />
3 BERND, Zilá (Org.). Poesia negra brasileira. Porto<br />
Alegre: AGE; IEEL; IGEL, 1992.