O poema <strong>de</strong> Geni Guimarães, a seguir, faz parte <strong>de</strong> Axé – Antologia Contemporânea <strong>de</strong> Poetas Negros Brasileiros, organizada por Oswaldo <strong>de</strong> Camargo. Òro Obìnrin E sentimentos placentários escaparam do meu útero, meu útero das minhas raízes, grafaram as leis regentes <strong>de</strong> todos os meus dias. Sou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ontem da minha infância, bagagem esfolada, curando feridas no arquitetar conteúdo para o cofre dos redutos. Messias dos meus jeitos, sou pastora do meu povo cumprindo prazerosa o direito e o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> conduzilo para lugares <strong>de</strong> harmonias. Meu porte <strong>de</strong> arma tenho-o <strong>de</strong>scoberto e limpo entre, em cima, embaixo e no meio do cor<strong>de</strong>l das palavras. 30 Geni Guimarães editou seu primeiro livro, em 1979, chamado Terceiro Filho, <strong>de</strong> poemas que escreveu na adolescência. Seu segundo livro, Da flor ao afeto, foi lançado em 1981, já com poemas bem diferentes do primeiro, segundo a própria autora “mais <strong>de</strong>cisivos, seguros”. Porém, foi o contato com a poesia negra que promoveu uma maior mudança na obra <strong>de</strong> Geni; em virtu<strong>de</strong> disso seu trabalho ficou mais “<strong>de</strong>limitado, por motivos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”. Essa mudança proporcionou maior visibilida<strong>de</strong> ao seu trabalho, o que resultou em convites para participar <strong>de</strong> coletâneas e eventos culturais. Integrida<strong>de</strong> Ser negra Na integrida<strong>de</strong> Calma e morna dos dias Ser negra De carapinhas, De dorso brilhante, De pés soltos nos caminhos. Ser negra De mãos, De negras mamas, De negra alma. Literatura afro-brasileira 157 Òro Obìnrin significa”Palavra <strong>de</strong> mulher” na língua Iorubá Geni Mariano Guimarães (1947), professora e escritora, nasceu em uma fazenda chamada Vilas Boas, município <strong>de</strong> São Manuel, interior <strong>de</strong> São Paulo, em 1947. Ainda pequena mudou-se para Barra Bonita, on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> até hoje. Des<strong>de</strong> adolescente, começou a publicar contos, poemas e crônicas em jornais locais. Antes <strong>de</strong> freqüentar a escola, a menina Geni já se interessava por poesias e histórias. E foi na escola que recebeu <strong>de</strong> um professor a notícia <strong>de</strong> que era poeta. E, percebendo nisso algo bom, tratou <strong>de</strong> assumir o privilégio do dom. Fazem parte <strong>de</strong> sua obra: A cor da ternura (1979), Leite <strong>de</strong> peito ( 1988) e o livro <strong>de</strong> poemas Balé das emoções, entre outros. Geni participou <strong>de</strong> diversos eventos culturais, alguns internacionais, e recebeu alguns prêmios por suas obras, em especial as infanto-juvenis. Seu livro infanto-juvenil A cor da ternura (1989), no qual Geni buscou em si a menina que cresceu em fazendas e exterioriza suas lembranças numa prosa poética notável, já está na 10ª edição. Tem poemas publicados em uma série <strong>de</strong> antologias nacionais e estrangeiras. 30 Guimarães, Geni. A cor da ternura. São Paulo: FTD, 1997. p.93.
158 Literatura afro-brasileira Ser negra Nos traços, Nos passos, Na sensibilida<strong>de</strong> negra. Ser negra, De verso e reverso, De choro e riso De verda<strong>de</strong>s e mentiras, Como todos os seres que habitam a terra. Negra Puro afro sangue negro, Saindo aos jorros, Por todos os poros. Ativida<strong>de</strong> Caça Quero um homem, Sensível, gostoso, Malandro e moleque. Quero um homem, De garras, Coragem, Astúcia: Quero um negro. Quero um homem, De cama, De colo, De terra maciça. Quero um homem, De beijo vadio, De longos caminhos, De peito pisado: Quero um negro. Quero um homem, Em <strong>de</strong>slimites, Desbarreiras, Abscreto. Quero um homem, Que me peça, Me enrole, Me ganhe: Quero um negro.
- Page 2 and 3:
LITERATURA AFRO-BRASILEIRA
- Page 4:
Florentina Souza Maria Nazaré Lima
- Page 7 and 8:
Chefe de Gabinete da Fundação Cul
- Page 10 and 11:
LITERATURA NEGRA, LITERATURA AFRO-B
- Page 12 and 13:
O Atlântico Negro e a Literatura A
- Page 14 and 15:
Literatura negra ou afro-brasileira
- Page 16 and 17:
Literatura afro-brasileira 15
- Page 18 and 19:
Os autores dos Cadernos Negros busc
- Page 20 and 21:
Eu canto aos Palmares Sem inveja de
- Page 22 and 23:
dente” também não soluciona a p
- Page 24 and 25:
ança do passado marcado pela escra
- Page 26 and 27:
Literatura afro-brasileira 25
- Page 28 and 29:
Arte e religiosidade O nome “nós
- Page 30 and 31:
gradativa da identidade determinada
- Page 32 and 33:
No Atlântico Norte... Desde a prim
- Page 34 and 35:
sões artístico-literárias, como
- Page 36 and 37:
A produção literária afro-brasil
- Page 38 and 39:
Gerais. Ao pesquisar a presença do
- Page 40 and 41:
SÉCULOS DE ARTE E LITERATURA NEGRA
- Page 42 and 43:
Muitos brasileiros já ouviram algu
- Page 44 and 45:
Eu te Amo, meu Brasil! Letra e mús
- Page 46 and 47:
nal do Brasil. Mesmo depois da Abol
- Page 48 and 49:
va-se o movimento de inclusão de s
- Page 50 and 51:
Num canto pranto de tantas mil Humi
- Page 52 and 53:
O negro na visão de escritores nã
- Page 54 and 55:
O negro fala de si mesmo O amor, a
- Page 56 and 57:
poetas. Um poeta negro, Gonçalves
- Page 58 and 59:
Quero que o mundo me encarando veja
- Page 60 and 61:
Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-18
- Page 62 and 63:
João da Cruz e Souza (1861-1898) L
- Page 64 and 65:
Às vezes eu me sinto o emparedado
- Page 66 and 67:
Machado de Assis (1839-1908) Litera
- Page 68 and 69:
Não cabisbaixo e triste, mas seren
- Page 70 and 71:
te, em particular, num ponto dado,
- Page 72 and 73:
Observe o seguinte trecho do capít
- Page 74 and 75:
século XIX equivalia a se dizer pe
- Page 76 and 77:
Lima Barreto (1881-1922) Literatura
- Page 78 and 79:
TRADIÇÃO ORAL E VIDA AFRICANA E A
- Page 80 and 81:
A Tradição Oral é a grande escol
- Page 82 and 83:
Para lembrar a história e celebrar
- Page 84 and 85:
Literatura afro-brasileira 83
- Page 86 and 87:
Oralidade e literatura oral Você g
- Page 88 and 89:
Deoscóredes M. dos Santos, Mestre
- Page 90 and 91:
Quem são os personagens? Qual o es
- Page 92 and 93:
Câmara Cascudo define as Congadas
- Page 94 and 95:
Provérbios: Um jeito de ensinar e
- Page 96 and 97:
Onde se fala Iorubá? Ika kó dogb
- Page 98 and 99:
Durante 13 anos a Rainha Nzinga enf
- Page 100 and 101:
A burriam está na rua Venha ver, v
- Page 102 and 103:
Literatura afro-brasileira 101
- Page 104 and 105:
dendezeiro havia umas folhinhas bem
- Page 106 and 107:
Re-existência da África na religi
- Page 108 and 109: O DOMA: Fonte legítima de saberes
- Page 110 and 111: Pois bem, há muita pessoas que fal
- Page 112 and 113: Tempestade de bonança, tudo tem se
- Page 114 and 115: AUTORES AFRO-BRASILEIROS CONTEMPOR
- Page 116 and 117: Éle Semog, em vários momentos de
- Page 118 and 119: Literatura afro-brasileira 117
- Page 120 and 121: ção registrada nesses outros: “
- Page 122 and 123: Nos contos e poemas que Cuti vem pu
- Page 124 and 125: Literatura afro-brasileira 123
- Page 126 and 127: Um fato Há poetas negros cujas pal
- Page 128 and 129: O que mais chama a atenção na pro
- Page 130 and 131: “vestimentas, adereços e comidas
- Page 132 and 133: A poesia de Edimilson de Almeida Pe
- Page 134 and 135: Em outros livros, a descrição de
- Page 136 and 137: Literatura afro-brasileira 135
- Page 138 and 139: Nesse ritual de reverência à pala
- Page 140 and 141: te os símbolos para que a cidade c
- Page 142 and 143: Solano, o poeta negro Agradam-me pr
- Page 144 and 145: Literatura afro-brasileira 143
- Page 146 and 147: tomando cachaça, servi de amor, da
- Page 148 and 149: Literatura afro-brasileira 147
- Page 150 and 151: Em Diário de Bitita (1982), Caroli
- Page 152 and 153: O Negro Escrito ... Descem, com a
- Page 154 and 155: Em O carro do êxito, livro que mar
- Page 156 and 157: pois perguntei a Berenice, esperand
- Page 160 and 161: Quero um homem, Que transforme rosa
- Page 162 and 163: Busca da poesia ... Carregamos nos
- Page 164 and 165: do rumo certo comum e imutável Cer
- Page 166 and 167: A literatura afro-brasileira, espec
- Page 168 and 169: Donga Você já ouviu falar em roda
- Page 170 and 171: As produções artísticas negras s
- Page 172 and 173: Em um CD intitulado No Balanço do
- Page 174 and 175: Novo Rei (Erivan Araújo - Tocaia)
- Page 176 and 177: Literatura afro-brasileira 175
- Page 178: Atividade: Agora que você já leu
- Page 181 and 182: 180 Literatura afro-brasileira
- Page 183 and 184: É a partir do século XVIII que a
- Page 185 and 186: 2 LOBATO, Monteiro. Histórias da T
- Page 187 and 188: 4 A população Kalunga é formada
- Page 189 and 190: 5 LOBATO, Monteiro. Histórias de T
- Page 191 and 192: 6 BARCELLOS, Mário César. Os orix
- Page 193 and 194: Geni decide ser professora, para pr
- Page 195 and 196: Texto 2 O texto abaixo faz parte do
- Page 197 and 198: 196 Literatura afro-brasileira Conh
- Page 199 and 200: 9 LIMA, Heloísa Pires. Histórias
- Page 201 and 202: 10 LINDOLFO FILHO, João. Tribos Ur
- Page 203 and 204: Atenção/ mas agora deu mancada e
- Page 205 and 206: culado à cultura africana. O livro
- Page 207 and 208: 12 BRAZ, Júlio Emílio. Na cor da
- Page 209 and 210:
208 Literatura afro-brasileira Iden
- Page 211 and 212:
Camila ( E agora?) (...) ir ao enco
- Page 213 and 214:
Lenda é uma narrativa popular, que
- Page 215 and 216:
17 BRAZ, Júlio Emílio. Lendas Neg
- Page 217 and 218:
216 Literatura afro-brasileira Conh
- Page 220 and 221:
Os/as autores/as Florentina Souza