literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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27 BARRETO, Lima. Histórias e sonhos. São Paulo:<br />
Gráfica Editora Brasileira, 1951.).<br />
28 De gran<strong>de</strong> interesse o trabalho <strong>de</strong> David<br />
Brookshaw sobre o assunto Ver: BROOKSHAW,<br />
David. Raça e cor na Literatura Brasileira. Porto<br />
Alegre, Mercado Aberto, 1983. Ver também,<br />
<strong>de</strong>ntre outros, CAMARGO, Oswaldo <strong>de</strong>. O<br />
negro escrito: apontamentos sobre a presença<br />
do negro na <strong>literatura</strong> brasileira. São Paulo: Imprensa<br />
Oficial; Secretaria <strong>de</strong> Cultura, 1987.<br />
29 BARRETO, Lima. Recordações do Escrivão Isaías<br />
Caminha. Lisboa: Livraria Clássica, 1909).<br />
fossem enterrando alfinetes, um a um aumentando<br />
cada manhã que viesse... Até quando será?<br />
Até quando? fiz eu exuberante.<br />
Uma rajada mais forte do vento que soprava quase<br />
apagava o combustor próximo. Ao cantar dos galos já<br />
se juntava a bulha do rolar <strong>de</strong> carroças na rua próxima.<br />
O subúrbio ia <strong>de</strong>spertar. Despedi-me do salteador.<br />
..........................................................................................................<br />
Pelos anos em fora, pelos dias iguais e monótonos<br />
que minha vida presenciou, mais fundo que essa<br />
incurável mágoa muito sofrida na mocida<strong>de</strong>, doeume<br />
à minha alma mais, muito mais a sincera pieda<strong>de</strong><br />
que inspirei àquele homem. 27<br />
A invenção <strong>de</strong> personagens como Ricardo Coração dos Outros<br />
(<strong>de</strong> Triste fim <strong>de</strong> Policarpo Quaresma), que adorava modinhas e<br />
trovas populares, mostrou o interesse <strong>de</strong> Lima Barreto em nascentes<br />
diversas, especialmente negras. Recor<strong>de</strong>mos Domingos<br />
Caldas Barbosa e Tobias Barreto, já citados. O primeiro, poeta<br />
mais lembrado em Portugal que no Brasil, quase esquecido enquanto<br />
autor <strong>de</strong> modinhas. O segundo, também poeta, e autor <strong>de</strong><br />
modinhas (este dado praticamente negligenciado), optou por acentuar<br />
a sua face elitista, mas nem todos negligenciam a figura noturna<br />
e boêmia do sergipano, com a viola <strong>de</strong>baixo do braço, trêfego<br />
e ébrio a tocar modinhas. 28 Em um trecho <strong>de</strong> outro romance, Recordações<br />
do Escrivão Isaías Caminha, na voz do personagem principal,<br />
Lima Barreto dá pistas <strong>de</strong> como escritores <strong>de</strong> origem negra<br />
po<strong>de</strong>m ter motivado seus interesses:<br />
E o monstruoso redator <strong>de</strong>sandou dizendo asneiras. Eu estava<br />
ali <strong>de</strong> colarinho sujo, esfomeado, mas tive ímpeto <strong>de</strong><br />
discutir e <strong>de</strong> quebrar a cara dos idiotas que o ouviam. Entre<br />
eles, havia alguns a quem cabia bem a carapuça, mas que se<br />
calaram cobar<strong>de</strong>mente. Queria perguntar-lhe se aqueles seus<br />
artigos acacianos, cheirando ainda muito à brochura francesa<br />
<strong>de</strong> dois mil e quinhentos se podiam por a par dos trabalhos<br />
do Tito Lívio, do Tobias Barreto; eu queria perguntarlhe<br />
se a sua genialida<strong>de</strong> no artiguete seria capaz <strong>de</strong> aparecer<br />
se tivesse nascido nas condições <strong>de</strong>sfavoráveis do Caldas<br />
Barbosa, do José Maurício, do Silva Alvarenga e outros! 29<br />
74 Literatura afro-brasileira