16.04.2013 Views

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

46 Literatura afro-brasileira<br />

Tradições negras<br />

A cultura popular fornece muitas indicações da forte presença do<br />

negro no Brasil. Na Bahia, alguns versos <strong>de</strong> uma canção popular<br />

sobre o Vapor <strong>de</strong> Cachoeira são muito conhecidos:<br />

O vapor <strong>de</strong> Cachoeira<br />

Não navega mais no mar<br />

Bota o remo, toca o búzio<br />

Nós queremos navegar<br />

Cachoeira foi uma das cida<strong>de</strong>s baianas mais ricas do século<br />

XIX, famosa por seus charutos e pelo fumo. Nessa cida<strong>de</strong>, havia<br />

uma gran<strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> artistas oficiais e não oficiais. Louco<br />

Filho, um escultor famoso no recôncavo baiano, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>u dos<br />

negros daquela época assim como muitos outros artistas da cida<strong>de</strong>.<br />

Cachoeira é <strong>de</strong>cisivo exemplo da forte presença cultural do<br />

negro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua chegada em terras brasileiras. O farto material<br />

histórico <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong> do recôncavo baiano permite várias leituras<br />

sobre o jogo entre o institucional e o não-institucional. Realça-se<br />

a presença da Irmanda<strong>de</strong> da Boa Morte, formada por negras<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos alforriados.<br />

Cachoeira é uma cida<strong>de</strong> talhada por escultores negros, numa<br />

tradição que vem <strong>de</strong> séculos. Um dos elementos indicativos do<br />

progresso <strong>de</strong> Cachoeira foi a novida<strong>de</strong> do barco a vapor, um barco<br />

que se movia, no início do século XIX, sem remos e sem ventos.<br />

O cancioneiro popular conta e canta muitas histórias. Boa<br />

parte <strong>de</strong>ssas histórias foram criadas ou recriadas por homens e<br />

mulheres negras, muitos <strong>de</strong>les ainda escravos.<br />

La<strong>de</strong>ando o Paraguaçu, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Félix, também <strong>de</strong>senrolavam-se<br />

outras versões da história, ou melhor, outras histórias,<br />

escritas na mata, em atabaques, bolinhos e sob o altar. As da<br />

mata, como as dos índios, provavelmente, jaguarás, foram riscadas.<br />

As histórias dos atabaques, oficialmente apagadas, <strong>de</strong>ixaram marcas<br />

fortíssimas sobre o papel institucional. Em Cachoeira, circulam<br />

versões populares a respeito da criação da irmanda<strong>de</strong>. Em<br />

uma <strong>de</strong>ssas versões, recolhida em agosto <strong>de</strong> 1994 pelo Núcleo <strong>de</strong><br />

<strong>Estudos</strong> da Oralida<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, obser-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!