literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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A poesia <strong>de</strong> Edimilson <strong>de</strong> Almeida Pereira aborda a questão<br />
dos afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes por um viés menos político, menos<br />
contestatório, embora esteja sempre atento aos fatores históricos e<br />
às questões sociais. A maioria <strong>de</strong> seus livros <strong>de</strong>ixa claro para o leitor<br />
que o material trabalhado em seus poemas provém <strong>de</strong> várias fontes<br />
e das várias áreas <strong>de</strong> conhecimento pelas quais o poeta transita: a do<br />
magistério superior, da antropologia e a do estudioso que se preocupa<br />
com a preservação da memória e <strong>de</strong> costumes próprios do<br />
universo em que a voz se mistura aos gestos e o indivíduo é sempre<br />
parte <strong>de</strong> uma coletivida<strong>de</strong>. Porque, muitas vezes, a recolha do material<br />
que se transforma em poesia é feita no universo da língua viva,<br />
<strong>de</strong> muitas tradições herdadas dos africanos que irão fomentar a sua<br />
escrita poética. Por isso, como o próprio poeta afirmou em entrevista<br />
recente, sua poesia funciona como uma “caixa <strong>de</strong> ressonância”,<br />
porque se presta a acolher o saber <strong>de</strong> pessoas que sequer sabem<br />
escrever, <strong>de</strong> gente que se expressa utilizando-se da palavra viva,<br />
e seguem a sabedoria e os ensinamentos dos mais velhos.<br />
Po<strong>de</strong>-se dizer que, com freqüência, o material que motiva a<br />
criação poética do escritor mineiro resulta <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> ouvir gente<br />
simples, <strong>de</strong> observar os costumes <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
e da atenção às transformações que as heranças africanas sofreram<br />
em diferentes lugares <strong>de</strong> Minas e em outros espaços, brasileiros<br />
ou não. Esse material, constituído <strong>de</strong> falas, cantos, gestos, rituais, é<br />
utilizado como motivação para a composição <strong>de</strong> poemas que não<br />
querem apagar os ritmos da fala nem esmaecer as cores que compõem<br />
diferentes rituais <strong>de</strong> celebração do sagrado. Vários poemas <strong>de</strong><br />
alguns <strong>de</strong> seus livros nasceram motivados por observações que ele,<br />
como antropólogo, fez <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s como a dos Arturos, <strong>de</strong> lugares<br />
<strong>de</strong> Minas Gerais que preservam a tradição do congado, as<br />
benzeções, as ladainhas em louvor a Nossa Senhora do Rosário, São<br />
Benedito. Estão também em seus poemas muitas tradições cultivadas<br />
em cida<strong>de</strong>s históricas mineiras, como Serro, Diamantina, Ouro Preto,<br />
Congonhas do Campo e outras em que a memória da escravidão e da<br />
exploração do ouro e do diamante pulsa nos objetos, nas ruas, nos<br />
casarões. A sensibilida<strong>de</strong> do poeta confun<strong>de</strong>-se com o olhar atento<br />
do estudioso que observa o dia-a-dia <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> grupos e registra<br />
os preceitos e as relações do ser humano com o sagrado.<br />
Literatura afro-brasileira 131<br />
Edimilson <strong>de</strong> Almeida Pereira nasceu em Juiz<br />
<strong>de</strong> Fora, Minas Gerais, em 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1963. É<br />
professor do Departamento <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora. Tem livros publicados em<br />
várias áreas do conhecimento. Em parceria com<br />
Núbia Pereira Gomes, publicou os seguintes ensaios:<br />
Negras raízes mineiras: os Arturos (1988),<br />
Assim se benze em Minas Gerais (1989), Arturos:<br />
olhos do rosário (1990), Mundo encaixado: significação<br />
da cultura popular (1992), Do presépio à<br />
balança: representações sociais da vida religiosa<br />
(1995), Ardis da imagem: exclusão étnica e violência<br />
nos discursos da cultura brasileira (2001),<br />
Flor do não esquecimento: cultura popular e processos<br />
<strong>de</strong> transformação (2002), Ouro Preto da<br />
Palavra: narrativas <strong>de</strong> preceito do Congado em<br />
Minas Gerais (2003). Obra poética: Dormundo<br />
(1985), Livro <strong>de</strong> falas (1987), Árvore dos Arturos<br />
& outros poemas (1988), Corpo imprevisto &margem<br />
dos nomes (1989), Ô lapassi & outros ritmos<br />
<strong>de</strong> ouvido (1990), Corpo vivido: reunião poética<br />
(1991), O homem da orelha furada (1995), Rebojo<br />
(1995), Águas <strong>de</strong> contendas (1998), A roda do<br />
mundo – em parceria com Ricardo Aleixo (1996),<br />
Traduzioni Traduções – em parceria com Prisca<br />
Agustoni (1999), Dançar o nome (2000), Zeosório<br />
blues: obra poética 1 (2002), Lugares ares: obra<br />
poética 2 (2003), Casa da palavra: obra poética 3<br />
(2003), As coisas arcas: obra poética 4.<br />
Obra infanto-juvenil: Cada bicho no seu canto<br />
(1998), O menino <strong>de</strong> caracóis na cabeça (2001),<br />
Coleção Bilbeli em parceria com Prisca Agustoni<br />
(2001-2003), O primeiro menino (2003).