literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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A produção literária afro-brasileira<br />
As estatísticas atestam que somos o segundo país do mundo com<br />
maior número <strong>de</strong> negros. Porém, na maneira <strong>de</strong> lidar com a nossa<br />
representação enquanto povo, nos enxergamos como um país<br />
“moreno”,”mestiço”. Essa atitu<strong>de</strong> tem um significado relevante<br />
para compreen<strong>de</strong>r as críticas à expressão “<strong>literatura</strong> negra”, formuladas<br />
também por escritores que, embora negros, consi<strong>de</strong>ram<br />
que a produção artística não precisa estar atrelada ao pertencimento<br />
étnico-racial do seu autor. Além disso, em <strong>de</strong>corrência do<br />
processo <strong>de</strong> “branqueamento” estimulado por parcelas da socieda<strong>de</strong>,<br />
questões importantes <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser observadas, como a efetiva<br />
integração social dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos antigos escravos. Não<br />
se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> reconhecer que há bem pouco tempo, tanto na<br />
<strong>literatura</strong> quanto na mídia, as imagens <strong>de</strong> negro e <strong>de</strong> negrura eram<br />
sempre mo<strong>de</strong>ladas através <strong>de</strong> vários preconceitos e estereótipos<br />
negativos. Muitos <strong>de</strong>sses preconceitos e estereótipos contra negros<br />
e mestiços ainda circulam em nossa socieda<strong>de</strong>, sendo mascarados<br />
ou camuflados. E, <strong>de</strong> alguma forma, eles incorporam-se à<br />
violência explícita contra a população <strong>de</strong> afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, pelo<br />
uso <strong>de</strong> termos pejorativos, <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras usadas aparentemente<br />
sem malda<strong>de</strong> ou da rejeição explícita a traços do corpo negro.<br />
Essas várias formas <strong>de</strong> violência <strong>de</strong>monstram o quanto é difícil<br />
para a cultura brasileira lidar <strong>de</strong> maneira menos problemática com<br />
a cor <strong>de</strong> sua população mais pobre, muito diferente da camada<br />
social mais rica, que é predominantemente “não negra”.<br />
Muitos dos traços que continuam a legitimar preconceitos<br />
em relação à cor da pele, feições do rosto, tipo do cabelo e uma<br />
gama infindável <strong>de</strong> características utilizadas para <strong>de</strong>squalificar ou<br />
<strong>de</strong>smerecer pessoas, têm sua origem na socieda<strong>de</strong> escravocrata,<br />
constituída <strong>de</strong> senhores (brancos) e escravos (negros). Mas há uma<br />
questão que é preciso registrar: são esses mesmos traços do corpo<br />
negro que, aos poucos, foram sendo assumidos como significantes<br />
<strong>de</strong> um outro padrão estético e <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> elevação da autoestima<br />
dos afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Ao alinhar-se a uma política <strong>de</strong> resistência,<br />
a <strong>literatura</strong> produzida por negros ou por aqueles que<br />
assumem as questões próprias dos segmentos marginalizados reto-<br />
Literatura afro-brasileira 35<br />
Em um dos capítulos <strong>de</strong>ste livro você terá a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> saber mais sobre o poeta Luiz Gama.<br />
Em São Paulo <strong>de</strong>stacam-se os jornais Menelick,<br />
Alfinete, Clarim da Alvorada e A Voz da Raça. No<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>staca-se O Quilombo.<br />
Étnicos primitivos. A expressão é <strong>de</strong> Cassiano<br />
Nunes (1969).