literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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17 In: ASSIS, Machado <strong>de</strong>. O verda<strong>de</strong>iro Cotrim.<br />
Memórias Póstumas <strong>de</strong> Brás Cubas. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Nova Aguilar, 1994. Vol. I.<br />
18 CHALHOUB, Sidney. Escravidão e cidadania: a<br />
experiência histórica <strong>de</strong> 1871. In: ____. Machado <strong>de</strong><br />
Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras,<br />
2003, P.138-139.<br />
19 ASSIS, Machado. Obra Completa. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
Nova Aguilar, 1994.<br />
pai. Reconheço que era um mo<strong>de</strong>lo. Argüíam-no <strong>de</strong><br />
avareza, e cui<strong>de</strong> que tinham razão; mas a avareza é<br />
apenas a exageração <strong>de</strong> uma virtu<strong>de</strong> e as virtu<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>vem ser como os orçamentos: melhor é o saldo<br />
que o <strong>de</strong>ficit. Como era muito seco <strong>de</strong> maneiras tinha<br />
inimigos, que chegavam a acusá-lo <strong>de</strong> bárbaro.<br />
O único fato alegado neste particular era o <strong>de</strong> mandar<br />
com freqüência escravos ao calabouço don<strong>de</strong> eles<br />
<strong>de</strong>sciam a escorrer sangue; mas, além <strong>de</strong> que ele só<br />
mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo<br />
longamente contraban<strong>de</strong>ado em escravos, habituara-se<br />
<strong>de</strong> certo modo ao trato um pouco mais duro<br />
que esse gênero <strong>de</strong> negócio requeria, e não se po<strong>de</strong><br />
honestamente atribuir à índole original <strong>de</strong> um homem<br />
o que é puro efeito <strong>de</strong> relações sociais. 17<br />
Joaquim Maria Machado <strong>de</strong> Assis (1839-1908), consi<strong>de</strong>rado<br />
um <strong>de</strong> nossos melhores escritores, era filho <strong>de</strong> um pintor negro e<br />
<strong>de</strong> uma lava<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> origem portuguesa. Segundo <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong><br />
sua época, Machado <strong>de</strong> Assis apaixonou-se pela leitura ainda cedo.<br />
Conseguiu trabalho como tipógrafo-aprendiz e foi funcionário<br />
público. Trabalhou também na imprensa, inclusive publicando alguns<br />
<strong>de</strong> seus textos literários em jornais, discutindo contradições<br />
e impressões sobre a socieda<strong>de</strong> escravocrata do século XIX.<br />
Ainda sobre esse assunto, o pesquisador Sidney Chalhoub18 informa-nos que, enquanto funcionário público, Machado <strong>de</strong> Assis<br />
também participou <strong>de</strong> algumas das discussões:<br />
Em 1873, Machado <strong>de</strong> Assis tornou-se funcionário do<br />
Ministério da Agricultura; a partir <strong>de</strong> meados <strong>de</strong> 1876,<br />
passou a chefiar a seção <strong>de</strong>sse ministério encarregada<br />
<strong>de</strong> estudar e acompanhar a aplicação da lei <strong>de</strong> emancipação.<br />
O romancista formou-se e transformou-se ao<br />
longo dos anos 1870 em diálogo constante com a experiência<br />
do funcionário público e do cidadão.<br />
O poema “Sabina” 19 comprova a atenção <strong>de</strong> Machado aos<br />
dramas da escravidão, tantas vezes movidos pelo sentimento:<br />
64 Literatura afro-brasileira