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literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

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ção registrada nesses outros: “quero ver combinar prosaicamente/<br />

flor do campo com Vigário Geral,/ternura com Carandiru. A exclusão<br />

e a miséria conclamadas pelo poema <strong>de</strong>monstram a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> a escrita literária apaziguar as diferenças, as contradições,<br />

mas reforçam a percepção <strong>de</strong> que a <strong>literatura</strong> po<strong>de</strong> ser um<br />

excelente meio para se conseguir a conscientização dos leitores.<br />

No poema “Alucinações”, do livro A cor da <strong>de</strong>manda (1997), a<br />

violência explícita dirigida contra os negros é a motivação maior<br />

dos versos que expressam situações em que os corpos estigmatizados<br />

pela cor negra simbolizam as vítimas maiores da violência<br />

dirigida contra os excluídos. Os versos da estrofe abaixo reproduzem<br />

cenas diárias do cotidiano das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras:<br />

Quatro pretos<br />

rolaram la<strong>de</strong>ira<br />

oito pretos também rolaram<br />

eram doze pretos sagrados!<br />

... não! Sangrados<br />

doze na madrugada<br />

que esperam doze horas<br />

para o rabecão passar. 4<br />

Em outros momentos, todavia, o leitor e a leitora po<strong>de</strong>rão<br />

encontrar nos textos do escritor outras motivações que exploram<br />

sensações e inquietações que são próprios <strong>de</strong> um sujeito que ama, e<br />

que, às vezes, sofre por causa do amor. Essas marcas <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong><br />

estão presentes, por exemplo, no poema “Pelo relógio a Central”,<br />

<strong>de</strong> A cor da <strong>de</strong>manda (1997):<br />

Não é o relógio do pulso<br />

que me aflige.<br />

A minha angústia resi<strong>de</strong><br />

No tempo que passa<br />

Pelo nosso amor<br />

Sem que você perceba. 5<br />

Como se vê, a <strong>literatura</strong> produzida pelo poeta transita tanto<br />

por sentidos como os produzidos pelos versos <strong>de</strong> poemas como<br />

“Razões” (1995), que associa o ato <strong>de</strong> criar poemas com jogar pedras,<br />

quanto por temas que exploram a angústia pela passagem do<br />

Literatura afro-brasileira 119<br />

4 Éle Semog. A cor da <strong>de</strong>manda, 1997, p.145.<br />

5<br />

I<strong>de</strong>m, p.83.

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