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literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

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22 Literatura afro-brasileira<br />

.........................................<br />

Me basta mesmo<br />

essa coragem quase suicida<br />

<strong>de</strong> erguer a cabeça<br />

e ser um negro<br />

vinte e quatro horas por dia. (p.15)<br />

No poema “No nor<strong>de</strong>ste existem Palmares”, Jônatas Conceição<br />

explora a sonorida<strong>de</strong> das palavras “palmeira” e “Palmares”, para<br />

se referir aos “novos palmares” que crescem nos centros urbanos,<br />

“trazendo novas verda<strong>de</strong>s” e recuperando, talvez, os sentidos que<br />

estão presentes na observação <strong>de</strong> um antigo viajante: “Palmeiras<br />

são símbolos <strong>de</strong> paz e sossego”. No poema, o trabalho com a sonorida<strong>de</strong><br />

dos vocábulos também procura <strong>de</strong>slocar sentidos previstos,<br />

possibilitando ao leitor perceber que os novos “palmares”, transplantados<br />

para o nor<strong>de</strong>ste, exibem “cabeças trançadas” que enfeitam<br />

as paisagens, qual palmeiras ao vento. O jogo <strong>de</strong> sentidos que<br />

fica explícito na aproximação dos termos “palmeira” e “Palmares”<br />

procura, poeticamente, povoar os bairros <strong>de</strong> “casebres e barracos”<br />

com as leves brisas que “amenizam passadas febres”.<br />

A memória é cultuada em vários poemas da antologia e constitui<br />

o tema mais forte dos poemas “Ilê Iyê/Casa da Memória” (p.<br />

33) e Ilê Aiyê/ Casa do Segredo (p.35-38), <strong>de</strong> Jaime Sodré. Os poemas<br />

<strong>de</strong>screvem a criação do mundo segundo a mitologia iorubá: o<br />

orixá Olorum, o que tem a forma das nuvens, o que é “NUVEM/<br />

VÁRIOS ROSTOS/VÁRIOS CORPOS/DIVERSAS FORMAS”<br />

(p. 36) preenche <strong>de</strong> vida o nada, o vácuo. Do gesto inaugural do<br />

<strong>de</strong>us Olorum nascem mares, terras e outros <strong>de</strong>uses que “saem todos”<br />

<strong>de</strong> Yemanjá, <strong>de</strong>usa mãe, rainha das águas, cujo corpo <strong>de</strong>lineia<br />

os “espaços / ATLÂNTICOS/ÍNDICOS/MARES VERME-<br />

LHOS/MARES DE SAL/MARES DE SEIXOS” (p. 36).<br />

A dificulda<strong>de</strong> vivida no dia-a-dia está também no poema<br />

“Todas as manhãs”, da escritora mineira Conceição Evaristo, que<br />

vem cultivando uma escrita mais comprometida com o universo<br />

da mulher. O poema constrói-se com referências ao cotidiano dos<br />

pobres, reunindo também alguns índices que apontam para heranças<br />

africanas: “Todas as manhãs junto ao nascente dia/ouço a<br />

minha voz-banzo,/âncora dos navios <strong>de</strong> nossa memória.” A lem-

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