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literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...

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gradativa da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada pelo longo período em que a<br />

‘cultura negra’ foi consi<strong>de</strong>rada fora-da-lei, durante o qual a tentativa<br />

<strong>de</strong> assimilar a cultura dominante foi o i<strong>de</strong>al da gran<strong>de</strong> maioria dos<br />

negros brasileiros” (p. 22-23). A autora procura também i<strong>de</strong>ntificar<br />

a “poesia negra” pela forma como o enunciador se manifesta. Ela<br />

afirma que o “eu lírico, em busca <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> negra, instaura<br />

um novo discurso — uma semântica <strong>de</strong> protesto — ao inverter um<br />

esquema on<strong>de</strong> ele era o Outro” (p. 50). Com esses critérios, Bernd<br />

parece <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma <strong>literatura</strong> que se assuma como negra, sem necessariamente<br />

ser escrita por negros. Basta que o enunciador manifeste<br />

uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> negra ou afro-brasileira.<br />

Por outro lado, talvez em <strong>de</strong>fesa da expressão “<strong>literatura</strong> afrobrasileira”,<br />

o escritor Edimilson Pereira da Silva fala da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se “educar o olhar” para dar conta da multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

questões à sua volta. E, tentando i<strong>de</strong>ntificar uma das funções da<br />

sua poesia, afirma que esta quer ser “uma caixa <strong>de</strong> ressonância<br />

para o silêncio dos negros e não-negros que partilham a condição<br />

<strong>de</strong> excluídos e agredidos”. 5<br />

Funcionar como uma caixa <strong>de</strong> ressonância significa também<br />

<strong>de</strong>ixar serem ouvidas as vozes daqueles que não po<strong>de</strong>m escrever,<br />

mas sabem produzir outras formas <strong>de</strong> expressão. Por exemplo:<br />

os escravos que cavaram na ma<strong>de</strong>ira dura os “nós <strong>de</strong> pinho”<br />

ou os produtores dos “cantopoemas” que, segundo Edimilson<br />

Pereira, cultivam “um poema sagrado do Congado que se realiza a<br />

partir da palavra cantada e da ação dramática do <strong>de</strong>voto”.<br />

Fica, assim, afirmada a importância das expressões “<strong>literatura</strong><br />

negra” ou “<strong>literatura</strong> afro-brasileira” nas discussões que preten<strong>de</strong>m<br />

trazer à tona a produção <strong>de</strong> pessoas que, embora segregadas<br />

por preconceitos relativos à cor da pele ou à pobreza em que vivem,<br />

começam a exigir, com atitu<strong>de</strong>s mais concretas, maior visibilida<strong>de</strong><br />

na socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />

Ativida<strong>de</strong>:<br />

I<strong>de</strong>ntifique artistas afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> sua região<br />

cujos trabalhos abor<strong>de</strong>m questões relativas à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

ou à cultura afro-brasileira. Organize um painel<br />

sobre a história e a produção cultural <strong>de</strong>stes artistas.<br />

Literatura afro-brasileira 29<br />

5<br />

MARQUES, Fabrício. Dez conversas: diálogos com<br />

poetas contemporâneos. São Paulo: Gutemberg, 2004.<br />

6<br />

I<strong>de</strong>m

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