literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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Conversas para além do texto:<br />
Os griots do terceiro milênio<br />
Falar do po<strong>de</strong>r da palavra nos remete também ao po<strong>de</strong>r que exercemos<br />
sobre as palavras. Po<strong>de</strong>mos manipular a linguagem falada<br />
ou escrita e transformá-las em poesia, ou música, por exemplo.<br />
Usar <strong>de</strong> maneira criativa a linguagem falada, sobretudo a<br />
música, criando formas exclusivas e especiais <strong>de</strong> práticas culturais,<br />
é e sempre foi uma maneira <strong>de</strong> ir além do que nos foi fornecido<br />
pelo sistema formal <strong>de</strong> ensino. As práticas culturais po<strong>de</strong>m<br />
ser vistas como uma forma <strong>de</strong> resistência étnico-racial e cultural.<br />
E a resistência, que sempre fortaleceu nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, também<br />
provocava, em tempos passados, a reação do po<strong>de</strong>r público, levando<br />
muitas vezes à criação <strong>de</strong> leis que proibiam algumas manifestações<br />
culturais das populações negras.<br />
A incômoda presença dos tambores, por exemplo, aparece<br />
nos artigos dos jornais, <strong>de</strong> São Paulo, Salvador e Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX. As <strong>de</strong>terminações dos<br />
po<strong>de</strong>res municipais, proibindo os “Batuques”, nos dão conta <strong>de</strong><br />
que a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir na forma <strong>de</strong> lei sua coibição é resultante<br />
seja da rejeição das elites às culturas africanas e afro-brasileiras,<br />
seja da disseminação <strong>de</strong> tais práticas naquele contexto. Dizendo<br />
<strong>de</strong> outra maneira, os batuques eram rechaçados pelas elites<br />
interessadas na manutenção <strong>de</strong> uma tradição cultural <strong>de</strong> origem<br />
européia, mas essas manifestações, apesar da intolerância,<br />
eram praticadas por gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas, daí o incômodo<br />
que leva à criação <strong>de</strong> leis proibindo tais manifestações culturais.<br />
Muitos estudiosos, pesquisadores têm i<strong>de</strong>ntificado nas<br />
musicalida<strong>de</strong>s um dos mais importantes aspectos das culturas <strong>de</strong><br />
origem africana. Muitos trabalhos têm buscado evi<strong>de</strong>nciar práticas<br />
culturais em que o fazer musical teve papel privilegiado entre<br />
as populações negras no Brasil.<br />
Nesse sentido, fazer música po<strong>de</strong> ser entendido como uma<br />
forma <strong>de</strong> retomar, reinventar, dar um sentido positivo à própria<br />
vida. É o que muitos jovens têm feito por meio do rap.<br />
O Rap po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como um estilo musical que combina<br />
elementos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tecnológica com a oralida<strong>de</strong>. A<br />
Literatura afro-brasileira 199<br />
Batuques. Diversas práticas musicais eram genericamente<br />
<strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> batuques e sambas,<br />
nesse contexto do século XIX.