literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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66 Literatura afro-brasileira<br />
Sabina<br />
Sabina era mucama da fazenda;<br />
Vinte anos tinha; e na província toda<br />
Não havia mestiça mais à moda,<br />
Com suas roupas <strong>de</strong> cambraia e renda.<br />
Cativa, não entrava na senzala,<br />
Nem tinha mãos para trabalho ru<strong>de</strong>;<br />
Desbrochava-lhe a sua juventu<strong>de</strong><br />
Entre carinhos e afeições <strong>de</strong> sala.<br />
Era cria da casa. A sinhá-moça,<br />
Que com ela brincou sendo menina,<br />
Sobre todas amava esta Sabina,<br />
Com esse ingênuo e puro amor da roça.<br />
Dizem que à noite, a suspirar na cama,<br />
Pensa nela o feitor; dizem que um dia,<br />
Um hóspe<strong>de</strong> que ali passado havia,<br />
Pôs um cordão no colo da mucama.<br />
Mas que vale uma jóia no pescoço?<br />
Não pô<strong>de</strong> haver o coração da bela.<br />
Se alguém lhe acen<strong>de</strong> os olhos <strong>de</strong> gazela,<br />
É pessoa maior: é o senhor moço.<br />
(...)<br />
Quem ao tempo cortar pu<strong>de</strong>ra as asas<br />
Se <strong>de</strong>leitoso voa? Quem pu<strong>de</strong>ra<br />
Suster a hora abençoada e curta<br />
Da ventura que foge, e sobre a terra<br />
O gozo transportar da eternida<strong>de</strong>?<br />
Sabina viu correr tecidos <strong>de</strong> ouro<br />
Aqueles dias únicos na vida<br />
Toda enlevo e paixão, sincera e ar<strong>de</strong>nte<br />
Nesse primeiro amor d’alma que nasce<br />
E os olhos abre ao sol. Tu lhe dormias,<br />
Consciência; razão, tu lhe fechavas<br />
A vista interior; e ela seguia<br />
Ao sabor <strong>de</strong>ssas horas mal furtadas<br />
Ao cativeiro e à solidão, sem vê-lo<br />
O fundo abismo tenebroso e largo<br />
Que a separa do eleito <strong>de</strong> seus sonhos,<br />
Nem pressentir a brevida<strong>de</strong> e a morte!<br />
E com que olhos <strong>de</strong> pena e <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong><br />
Viu ir-se um dia pela estrada fora<br />
Otávio! Aos livros torna o moço aluno,