literatura 20jul.pmd - CEAO - Centro de Estudos Afro Orientais ...
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O negro na visão<br />
<strong>de</strong> escritores não-negros<br />
Como vimos, o negro não foi eleito mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> brasileiro. Mas<br />
isso não quer dizer que tenha sido totalmente esquecido pelos<br />
escritores. Muitos escritores aproveitam a temática do negro para<br />
elaborar uma série <strong>de</strong> estereótipos eficazes e perigosos sobre o<br />
negro e instaurá-los a partir da meta<strong>de</strong> do século XIX. Por exemplo:<br />
1849 - Joaquim Manuel <strong>de</strong> Macedo apresenta na peça O Cego,<br />
o mito do escravo fiel.<br />
1856 - Pinheiro Guimarães lança um folhetim com a temática<br />
do escravo <strong>de</strong>sprezível.<br />
1869 - Macedo escreve As vítimas-algozes, em que se realça a<br />
imagem do escravo <strong>de</strong>mônio.<br />
1875 - Bernardo Guimarães e o frágil mito do escravo nobre<br />
que, por isso mesmo, muda <strong>de</strong> tez: A Escrava Isaura. Isaura, branca<br />
e excepcional X Rosa, negra escrava vingativa.<br />
Muitos textos da chamada <strong>literatura</strong> abolicionista partem da<br />
premissa <strong>de</strong> que a escravidão era ruim para os donos <strong>de</strong> escravos,<br />
porque os colocava em contato com <strong>de</strong>generados morais, como<br />
po<strong>de</strong>mos observar na peça <strong>de</strong> Alencar intitulada O <strong>de</strong>mônio familiar,<br />
<strong>de</strong> 1859.<br />
O escravo fiel foi muito traduzido pela imagem do PAI<br />
JOÃO. O Pai João seria sinônimo do negro resignado à condição<br />
servil, passivo.<br />
A imagem do negro vingativo parece ter se associado à do<br />
preto velho resignado, em alguns casos, gerando um tipo <strong>de</strong> terceira<br />
or<strong>de</strong>m, vinculado ao <strong>de</strong>moníaco, tanto na <strong>literatura</strong> oral quanto<br />
na escrita: Papa-Figo, Tangolomango, Mirigidos são, na maioria<br />
das vezes, representados por pretos velhos solitários, estranhos e<br />
dados a práticas monstruosas. O Velho Mirigido, por exemplo,<br />
aparece mais tar<strong>de</strong> no romance Cazuza, <strong>de</strong> Viriato Correia, assustando<br />
crianças com a fama <strong>de</strong> <strong>de</strong>vorador <strong>de</strong> pernas. Assim também<br />
está em um conto <strong>de</strong> Monteiro Lobato, BocaTorta.<br />
Literatura afro-brasileira 51