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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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Tanto em meio aos artistas que participam, assim como entre o público que<br />

assiste, a atividade de apresentar-se é denominada pelo verbo brincar. Isto traz uma<br />

diferença marcante se pensarmos que no contexto do teatro convencional o verbo que<br />

indica a ação, por exemplo, é representar, atuar. Interessante notar que o verbo que<br />

indica essa ação em outras línguas tem o duplo significado de “brincar ou jogar”. Em<br />

alemão spielen, em inglês to play, em francês jouer 65 . Da Matta (1997) nos fornece uma<br />

interessante reflexão sobre a idéia de brincadeira no Carnaval. A consideração de Da<br />

Matta (1997: 144) também pode ser estendida ao nosso caso. “Deve ser mencionado,<br />

como um dado importante que o verbo cantar, como o verbo brincar, está cheio de<br />

possibilidades metafóricas no Brasil. Assim, brincar significa também relacionar-se,<br />

procurando romper as fronteiras entre posições sociais, criar um clima não verdadeiro,<br />

superimposto à realidade”.<br />

Em comentário sobre as contribuições de Austin, como já apontado acima na<br />

definição de Tambiah sobre ritual, Peirano (2001: 28) chama atenção para o fato de que<br />

“determinados verbos são por sua própria natureza performativos e, neste caso, dizer é<br />

fazer (ver Austin 1962).”. Daí a importância de destacar a noção de brincar, de<br />

brincadeira, para o entendimento do mamulengo, e no caso deste capítulo, colocá-lo em<br />

relação com as outras brincadeiras que também compõem o contexto em questão.<br />

Pensado em termos de fato total (Mauss, 2003), o mamulengo possui uma amplitude<br />

semântica de tal ordem que nos permite perceber uma série de sentidos diferenciados. Por<br />

não operar num único plano de sentido, ele se vincula também a processos e a um tipo de<br />

reciprocidade não harmonioso. O mamulengo seria um fato total, pois, nele “exprimem-<br />

se, de uma só vez, as mais diversas instituições: religiosas, jurídicas e morais — estas<br />

sendo políticas e familiares ao mesmo tempo -; econômicas – estas supondo formas<br />

particulares de produção e do consumo, ou melhor, do fornecimento e da distribuição —;<br />

111<br />

65 “A língua francesa (nem a portuguesa) não possui expressões paralelas para jeu e théâtre (ou pièce)<br />

como o inglês (to play, a play) ou o alemão (spielen, Schauspiel). Uma dimensão importante da<br />

representação, o aspecto lúdico, acha-se assim excluída do imaginário da língua. Em contrapartida, o inglês<br />

joga lindamente com as palavras e noções (“A play is play”, BROOK, 1968: 157; “The play’s the thing”,<br />

Hamlet, II, 2), ao passo que o alemão concebe os atores como “jogadores do espetáculo” (Schau-spieler).<br />

Só expressões como jogo do ator, por exemplo, dão idéia da atividade lúdica. O recentíssimo termo jogo<br />

dramático* reencontra, de maneira sintomática, a tradição espontânea e improvisada do jogo” (Pavis, 1999:<br />

219). Para a discussão do jogo como elemento da cultura, ver Huizinga (2000). Na antropologia, em<br />

sentidos diferentes, diversos autores utilizaram metáforas e elementos do universo teatral e dos jogos para<br />

análises sociais, tais como: Goffman (1989), Geertz (1978, 1991, 1997) e Turner (1985, 1988, 1990, 1992).

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