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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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no pano de fundo desta análise do mamulengo, situando-o dentro desse sistema social<br />

particular 176 :<br />

206<br />

Eu não sei o da Europa, pelo menos o que eu vi lá na Europa, os mamulengo<br />

contam a história dos reis, história do tal palácio, e até mostra certos palácios, assim,<br />

cenário de palácio, rei, rainha, vassalo, escravo, essas coisas. O nosso mamulengo é<br />

tudo da roça: Vaqueiro, Trabalhador da roça, a Cobra, o Boi, o Pássaro da lagoa. É<br />

tudo que tem numa fazenda: o capitão, o Inspetor Peinha, que é aquele inspetor lá da<br />

fazenda. Tudo o que existe numa fazenda: o Coronel Mané Pancaru. E quando ele<br />

chega: “eu sou fazendeiro, estou precisando de um empregado de confiança”. O<br />

mamulengo é uma fazenda.<br />

O que verificamos na constituição de Zé Lopes como mamulengueiro: construção<br />

de um discurso que incorpora elementos de fora do contexto da Zona da Mata; tensão<br />

entre “tradição” e “inovação”; dificuldade em legitimar-se dentro da Zona da Mata em<br />

oposição à facilidade em legitimar-se fora; consciência de referências históricas, etc.<br />

Tudo isso nos revela a multiplicidade de significações a cerca do mamulengo; as<br />

transformações do brinquedo frente aos novos circuitos de recepção; a ampliação de<br />

mercados e interesses e as próprias tensões decorrentes desses processos de aprendizado.<br />

Em todos os mamulengueiros atuantes hoje na Zona da Mata verificamos também essas<br />

incorporações. O caso de Zé Lopes me parece emblemático nesta rede, por ser o aprendiz<br />

direto de Zé de Vina e pelo lugar que este ocupa na rede de linhagem, processando de<br />

maneira mais lenta as conseqüências destas relações, porque tem na atuação na Zona da<br />

Mata a força de sua legitimidade. Em compensação, nos discursos de mamulengueiros<br />

que iniciaram suas atividades nos anos 1980, como João Galego, Miro e Tonho, por<br />

exemplo, esses processos de mediação são mais evidentes. Para concluir este capítulo,<br />

gostaria de verificar como se constitui a noção de artista para esses mamulengueiros.<br />

176 Idem.

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