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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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onecos. Os bêbados entusiasmaram-se e ficaram dançando em frente à barraca, como<br />

nas apresentações nos sítios na Zona da Mata. Ofereciam goles de cachaça aos bonecos,<br />

mexiam nas saias das bonecas, tentavam levantar os personagens mortos. Mesmo<br />

competindo com os carros e aparelhos de som e com os muitos trios de forró da Feira, Zé<br />

Lopes saiu-se muito bem, e não se preocupou em selecionar as passagens. O mesmo<br />

aconteceu quando Zé de Vina lá se apresentou. Ou seja, entre o público havia uma<br />

familiaridade notável com as convenções (Becker, 1977b). Os estudos da recepção teatral<br />

analisam esse fenômeno que ocorreu com os espectadores da Feira de São Cristóvão<br />

através do plano da identificação:<br />

275<br />

“A dificuldade de formalização dos modos de recepção diz<br />

respeito à heterogeneidade dos mecanismos em jogo (estética, ética,<br />

política, psicológica, lingüística etc.). Ela é também inerente à<br />

situação de recepção própria do espetáculo. O espectador é ‘imerso’<br />

em pleno acontecimento teatral, num espetáculo que provoca sua<br />

capacidade de identificação, tem a impressão de estar-se<br />

confrontando com ações semelhantes às de sua própria experiência.<br />

Recebe a ficção mesclada com essa impressão de interpelação direta;<br />

há poucas mediações entre a obra e seu mundo, e os códigos cênicos<br />

atuam diretamente sobre ele sem que pareçam estar sendo<br />

manipulados por uma equipe e sem serem anunciados por um<br />

narrador; o procedimento artístico é, então, mascarado. Finalmente e<br />

sobretudo, ao assistir a uma ação transmitida diretamente, o<br />

espectador se utiliza dos modelos teóricos que conhece, reconduz a<br />

diversidade dos acontecimentos a um esquema unificador lógico e, ao<br />

mesmo tempo, capaz de estruturar a realidade exterior” (Pavis,1999:<br />

330).<br />

A idéia de enquadramento de Bateson (2000: 177-193) me auxilia também a<br />

entender os efeitos da recepção, e o jogo de forças entre a realidade e o ficcional. O<br />

enquadramento do mamulengo, o momento de uma apresentação, deixa claro que tudo<br />

aquilo representa uma ficção, por outro lado resta para a platéia completar esses<br />

conteúdos com a vida real. Mesmo estando claro que os bonecos não são seres humanos,

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