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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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Ao pensarmos a idéia de mediadores culturais, a trajetória de Zé Lopes é a que<br />

certamente obtém maior desenvoltura na circulação em diferentes meios culturais. Esse<br />

aspecto aponta para a hipótese de que a sua geração tenha, talvez, uma maior facilidade<br />

para assimilar as transformações do mamulengo em face aos novos circuitos e à nova<br />

conjuntura de valorização da cultura popular, ou se quisermos, do patrimônio imaterial<br />

brasileiro (Gonçalves, 2002).<br />

O acesso a outras redes culturais permitiu a Zé Lopes uma expansão da<br />

possibilidade de novos contratos. A participação de Zé Lopes em festivais, em filmes<br />

(Abril Despedaçado, de Walter Salles), em feiras de artesãos, a realização de exposições<br />

com seus bonecos, permitiram um reconhecimento de seu trabalho por uma rede externa<br />

à localidade de Glória do Goitá e adjacências. Sua habilidade com a madeira, e o fato de<br />

ministrar oficinas de confecção de mamulengo também facilitaram e ampliaram as suas<br />

possibilidades, tendo inclusive trabalhado como restaurador de peças de artistas<br />

populares em um museu no interior da Bahia.<br />

196<br />

Mesmo circulando em outras redes, que não as de sua localidade, Zé Lopes tem<br />

consciência do significado do mamulengo, da necessidade do respaldo local, e de sua<br />

definição como “teatro popular tradicional” — ou seja, ele tem total domínio das<br />

convenções como definidas em Becker (1977b). Seu processo de aprendizagem e<br />

legitimação como mestre mamulengueiro enfrentou muitas resistências não apenas na<br />

região da Zona da Mata, mas também fora dali. Seu caráter inventivo foi muitas vezes<br />

tomado, por outros pesquisadores, como deturpador do que, em tese, seria o “verdadeiro<br />

mamulengo”, como descrevo em inúmeras passagens em Alcure (2001) e mais adiante na<br />

análise dos bonecos. Consciente da necessidade dessa legitimação, Zé Lopes trata o seu<br />

processo de aprendizagem e seu o contato com mestres antigos, quase como um atestado<br />

de seus alicerces “tradicionais”. Vejamos como Zé Lopes relata esse processo 162 , que<br />

teria sido despertado ainda na sua infância. É interessante a referência a outras madeiras,<br />

como a maniva, a carrapateira, o pinhão, ainda mais macias que o mulungu, nos<br />

experimentos infantis de alguns mamulengueiros. Ouvi a mesma coisa nos depoimentos<br />

de Tonho e de Miro, outros importantes artesãos-mamulengueiros da atualidade:<br />

162 Registrado em entrevista de 8/8/1999 sobre a história de vida de Zé Lopes, em sua casa, em Glória do<br />

Goitá.

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