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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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Também é interessante o que Saúba tem a falar sobre seus clientes, que em sua<br />

maioria não são da localidade da Zona da Mata. Nesses casos, interessa menos se o<br />

boneco é realmente um personagem característico do mamulengo, mas sim, o fato de ser<br />

um boneco feito por um mamulengueiro. Nessa situação, o mamulengo ganha um outro<br />

significado, que não necessariamente precisa estar conectado ao corpo reconhecido como<br />

“tradicional”. Neste contexto, o artista se impõe ao seu protótipo, à criação do objeto,<br />

porque tem liberdade em relação a aquilo que será representado, mas também ao<br />

recipiente, nesse caso o comprador, que adquire o boneco pensando no valor que ele<br />

porta simplesmente por ser feito por um mamulengueiro (Gell: 1998: 29; 32;33). Não<br />

importa para este tipo de recipiente que o boneco adquira outro significado, que o boneco<br />

em si nada tenha a ver com a brincadeira, ele continua sendo mamulengo, para quem vê<br />

de fora. Aqui, o caráter inventivo e experimental do artista fica mais evidente, pois o<br />

artista tem domínio total da manipulação do material, da forma da madeira, se impondo<br />

ao índice, constituindo aquilo que Gell (1998: 33) define como “the elementary formula<br />

for artistic agency”. 216<br />

Adriana: Ô Saúba, e dos seus clientes do Rio, assim, do Rio, São Paulo, Bahia... Como é<br />

que você foi fazendo essa clientela, ao longo dos anos? Como é que o pessoal conheceu o<br />

seu trabalho?<br />

Saúba: Eu vendia nas lojas, né? Lá no alto da Sé, de Olinda... Então a pessoa queria<br />

me conhecer mesmo... Então, que nem João Valença... Aí, ele tava lá em cima, no alto<br />

da Sé, e eu tava vendendo as peças, ele disse: "Como é teu nome?" Eu disse, "Saúba"<br />

"É mesmo?", "É", "Dá pra quando terminar de vender aí os bonecos eu falar com<br />

tu?" "Dá" A gente saía, falava. No Rio de Janeiro, me conhecia umas pessoas do Rio<br />

de Janeiro também, por intermediário, que eu fui pra lá, dançar com a boneca...<br />

Falaram meu nome no jornal, correu... Saúba, dos bonecos, tá aqui com a boneca pra<br />

se apresentar... E lá, o repórter ia fazer reportagem... Aí, era assim, que eu peguei<br />

reconheci as pessoas. E de São Paulo, foi quando fui pra... era o Som Brasil, fui me<br />

apresentar no Som Brasil, com a boneca. Faz muito tempo... Acho que faz mais de...<br />

uns quinze anos, pra... Não, uns doze anos, pra treze anos assim, que eu fui lá... Eu<br />

216 Entrevista julho de 2004, em Carpina.<br />

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