16.04.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

244<br />

of acting as an agent or being a locus of agency. This ‘agent’ is<br />

momentarily in the ‘pacient’ position” (Gell, 1998: 22).<br />

Apesar de não ter seguido à risca o programa proposto por Gell, por conta de sua<br />

abrangência e detalhamento, me foi bastante inspirador tomar algumas destas reflexões<br />

para analisar o boneco do mamulengo, pois me permitiu ver o mamulengo em sua<br />

multiplicidade, evitando a sua essencialização e mantendo as tensões, as dinâmicas e os<br />

conflitos do brinquedo inseridos na contemporaneidade, o que talvez, sejam elementos da<br />

sua própria natureza, ou nos revelem algo da operacionalidade das brincadeiras<br />

brasileiras de uma maneira geral. Esta posição adotada salvaguarda o fazer desses<br />

artistas, no sentido de não legá-los ao anonimato, mas enfatizando a compreensão nas<br />

suas ações, importando mais a complexidade do tempo presente que a busca de um<br />

passado supostamente original.<br />

Tratar o objeto como pessoa, tal qual propõe Gell (1998: 9), nos aproxima de<br />

pontos levantados por Mauss (2003). Por exemplo, a origem de um boneco, sua<br />

antiguidade, como pertencente a este ou aquele “mestre”, ou confeccionado por um ou<br />

outro mamulengueiro, ou mesmo sem saber de quem foi aquele boneco, mas sabendo que<br />

ele pertenceu a algum mamulengo antigo, faz desse objeto um portador de algo que o<br />

diferencia, que acredito, podemos perceber como detentor de “mana”, fazendo uma<br />

analogia ao conceito como proposto por Mauss. A referência a um antigo dono, ou<br />

construtor, atribui legitimidade e valor ao boneco. Assim, “aceitar alguma coisa de<br />

alguém é aceitar algo de sua essência espiritual, de sua alma” (idem: 200). E um boneco<br />

de mamulengo só tem valor e só se diferencia de um boneco, ou uma marionete comum,<br />

se faz referência ao mestre mamulengueiro ou ao mamulengo que lhe deu a forma, ou a<br />

vida, no sentido de que foi brincado por algum mamulengueiro. A atribuição deste valor,<br />

como estamos vendo, parte não só dos próprios mamulengueiros, mas também do público<br />

da Zona da Mata, de pesquisadores do mamulengo, de negociadores e consumidores de<br />

arte popular.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!