16.04.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Nacional de Artes e Negócio). Seu trabalho é bastante conhecido fora da Zona da Mata<br />

pernambucana. O interessante é que mesmo sem brincar mamulengo, Miro é considerado<br />

um mamulengueiro no contexto dos próprios mamulengueiros. E mesmo produzindo<br />

bonecos que, talvez, nunca irão brincar, ele sabe bem definir o que é um boneco de<br />

mamulengo. 219<br />

Adriana: Miro, o que é o mamulengo pra você? O que representa na sua vida?<br />

Miro: O mamulengo? O mamulengo é a pessoa... um boneco morto, o camarada fazer<br />

a vida pra ele. E ele dá o retorno da vida pra pessoa... vivo. Porque, se ele tiver parado,<br />

ele não tem vida. E às vezes quando a gente sobe a lona com um boneco pra apresentar<br />

no mamulengo, e chega em cima, o outro já tá querendo ir, acompanhar aquele e<br />

precisa de gente pra colocar na mão, até levar aquele... pra fazer as histórias com o<br />

outro que tá lá em cima.<br />

Miro faz a distinção entre um boneco que servirá a um mamulengueiro para<br />

brincar e aquele destinado a outras pessoas. Essa diferença está também no preço dessas<br />

peças. Por exemplo, Zé de Vina, certa vez, encomendou um boneco da Morte a Miro, e<br />

obteve um preço bem inferior aos bonecos que são vendidos para lojas. Outro fato<br />

interessante é que Zé de Vina deu instruções a Miro de como queria que o boneco fosse<br />

feito, que tipo de mecanismos, tamanho, cores, etc, coisa que o artesão soube bem<br />

assimilar. Ou seja, usando a terminologia de Gell (1998: 25; 29; 35; 39), aqui o protótipo,<br />

aquilo que o artista irá representar em sua obra se impõe ao artista e ao índice, sendo<br />

determinante na sua realização, porque é compartilhada tanto pelo artista quanto por<br />

aquele a quem a obra será destinada, o recipiente, no caso um outro artista, um outro<br />

mamulengueiro. Também o público da Zona da Mata, um segundo recipiente da obra,<br />

tem domínio sobre o protótipo, e de alguma maneira sobre o artista, pois detém os<br />

instrumentos para interferir e avaliar a obra, já que também compartilha dos códigos do<br />

brinquedo, e é fundamental, como vimos nesses processos de reconhecimento.<br />

A mesma relação, verificamos entre Zé de Vina e Zé Lopes, no começo do<br />

aprendizado do último. Zé Lopes costumava mostrar seus bonecos, antes de pronto a Zé<br />

219 Entrevista junho de 2004, em Carpina - PE.<br />

255

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!