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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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77) verifica em comentário ao trabalho de Bohannan sobre documentos da administração<br />

inglesa a respeito da genealogia da sociedade tiv:<br />

184<br />

“(...) que memorável, aquilo de que esta memória se lembra, longe de<br />

pertencer a um passado registrado ou a um conjunto de arquivos, é<br />

um saber no presente, exposto a reinterpretações, mas cujas variações<br />

incessantes não são perceptíveis no interior da tradição falada.”<br />

Também Zumthor (1993: 143) definindo “tradição” aponta para esta mesma<br />

tensão entre fixação e variabilidade, aquilo que define o que é o mamulengo, e aquilo que<br />

o torna singular através de cada mestre, destacando também a outra ponta desse elo, o<br />

público, e os vínculos que se estabelecem entre a enunciação e a recepção:<br />

“A tradição é a série aberta, indefinidamente estendida, no tempo e no<br />

espaço, das manifestações variáveis de um arquétipo. Numa arte<br />

tradicional, a criação ocorre em performance; é fruto da enunciação<br />

– e da recepção que ela se assegura. Veiculadas oralmente, as<br />

tradições possuem, por isso mesmo, uma energia particular – origem<br />

de suas variações. Duas leituras públicas não podem ser vocalmente<br />

idênticas nem, portanto, ser portadoras do mesmo sentido, mesmo que<br />

partam de igual tradição. Suas variantes são às vezes pouco<br />

perceptíveis, e seus efeitos sobre a estabilidade do arquétipo, mal<br />

observáveis nas durações curtas; elas literalmente não têm<br />

testemunhas”.<br />

3.1. O aprendizado de Zé de Vina.<br />

A principal característica de Zé de Vina está no seu modo de brincar. Ele não<br />

confecciona seus bonecos, mas os compra de outros mamulengueiros. Sua habilidade<br />

com os bonecos, seu conhecimento de passagens advindo de seu intenso contato com<br />

grandes mamulengueiros do passado, fazem de seu acervo técnico e mnemônico uma<br />

importante referência para entendermos as convenções do mamulengo. Um aspecto que<br />

encontramos com freqüência em depoimentos de artistas sobre seu próprio aprendizado,

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