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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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1.1.2 A primeira brincadeira de mamulengo.<br />

A primeira apresentação de mamulengo que assisti foi de Zé Lopes, para uma<br />

equipe de filmagem, no Alto do Amparo, um ponto turístico de Olinda, com muitas<br />

barraquinhas de souvenir, camisetas, miniaturas da cidade, bonecos de barro típicos de<br />

Caruaru, comidas típicas nordestinas e cantadores improvisando para turistas por alguns<br />

trocados. O mamulengo, ali, ajudava a compor a expectativa do “tipicamente<br />

pernambucano” e, assim, satisfazer a curiosidade dos visitantes.<br />

O contexto social em que circulam os mamulengueiros era ainda específico em<br />

Pernambuco. Refletindo sobre o fato de a classe média, em geral, participar de um espaço<br />

social diferente deste contexto, mesmo que em determinadas ocasiões essa fronteira seja<br />

quebrada e compartilhada, como fica evidente com relação ao carnaval e aos hábitos<br />

alimentares, percebi que os interesses da classe média de Recife, por brincadeiras como o<br />

mamulengo estavam relacionados à idéia de “típico”, de atrativo cultural, exótico, a ser<br />

apresentado ao visitante, estando distante de seu próprio cotidiano. Sobre a relação entre<br />

o “típico” e o turismo encontrei interessante reflexão no trabalho de Canclini (1982: 87,<br />

89):<br />

“O típico é o resultado da abolição das diferenças, da<br />

subordinação a um tipo comum dos traços específicos de cada<br />

comunidade. Pode-se argumentar que o turista precisa desta<br />

simplificação do real porque ele não viaja como um investigador da<br />

realidade. Mas a simplificação mercantil das culturas tradicionais,<br />

que de modo semelhante ao que ocorre na imprensa e na televisão são<br />

chamadas de populares, quase sempre supõe que os seus espectadores<br />

estejam abaixo do coeficiente intelectual que eles realmente possuem e<br />

que o turismo ou o entretenimento são lugares onde ninguém quer<br />

pensar. (...) O típico, ou seja, o que o turismo cerca de cartazes<br />

inócuos para adaptá-lo aos nossos preconceitos, é não apenas uma<br />

escamoteação da realidade do lugar que estamos visitando mas<br />

também da nossa própria realidade, do que poderia ocorrer conosco<br />

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