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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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apropriação simbólica de manifestações populares para projetos pedagógicos de fundo<br />

político e de controle. Por exemplo, o Kasper Theater, o teatro popular de bonecos<br />

tradicional alemão — uma espécie de “mamulengo” no sentido estrutural dos elementos<br />

estéticos, dramáticos e cômicos — no período do Nacional Socialismo, o Kasper, que é<br />

também o nome de um personagem, foi apropriado para a realização de propaganda<br />

nazista. Posteriormente, durante o período comunista na parte oriental da Alemanha, foi-<br />

lhe atribuído funções pedagógicas, se transformando em instrumento educativo nas<br />

escolas (Kolland: 1997; Mortan: 2003; Vezinaud: 2005). Hoje está mais relacionado ao<br />

universo infantil, tendo seus aspectos popularescos e grotescos sido, em grande parte,<br />

estirpados 277 . Em entrevista a alguns mamulengueiros obtive muitos relatos sobre a<br />

necessidade de “moralizar” aspectos do mamulengo, em detrimento das apresentações em<br />

escolas. Esta “moralização” do brinquedo auxiliaria na obtenção de contratos.<br />

309<br />

O trabalho de campo de 2004 foi marcado pelo início da campanha eleitoral em<br />

Lagoa de Itaenga. O momento seria propício aos pedidos de favores e agrados aos<br />

políticos que prometem tudo para se eleger; nessa ocasião são oferecidos desde tijolos a<br />

contratos de mamulengo. Em todos os lugares o tema de conversas era basicamente a<br />

política. No dia 27 de junho de 2004 aconteceu a convenção do PMDB lançando o<br />

candidato Carlos Vicente Arruda à reeleição da prefeitura. Concorria com ele o ex-<br />

prefeito, candidato pelo PSB, Sebastião Menino. Pedi a Zé de Vina que expressasse sua<br />

opinião sobre os candidatos, e Zé teceu comentários tomando por base o atraso no<br />

pagamento de salários e de cachê do mamulengo. Zé estava apoiando a reeleição do<br />

prefeito Carlos Vicente, por conta das seguintes justificativas: a decepção com o antigo<br />

prefeito, Sebastião Menino, que atrasava os salários dos funcionários da prefeitura e<br />

demorava, ou não pagava as brincadeiras contratadas (quando ele deixou o cargo, ficou<br />

devendo cinco brinquedos). Para Zé, o tempo de Carlinhos do Moinho seria melhor<br />

porque não haveria atraso nos pagamentos e apesar do pouco apoio à cultura, o prefeito<br />

cumpriria seus tratos, dando apoio quando requisitado ou necessário. O que está em<br />

questão neste jogo de forças é: uma vez apoiando um candidato, a pessoa deve se afastar<br />

do outro, sob o risco de perder todas as benfeitorias conseguidas. Sendo assim, Zé estava<br />

277 Mais informações sobre o Kasper, vide o apêndice I.

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