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“A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá mas não pode medir seus encantos. A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá. Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam.” (Manoel de Barros – Livro sobre Nada) 17
Introdução: Vamos lá rapaziada! Tá na hora de começar o nosso movimento, tá na hora de nosso trabalho. Deus na frente, nós na guia, acompanhado com Deus e a Nossa Virgem Maria! Uma musguinha seu mestre! 1 O que é o mamulengo? Esta pergunta nos acompanhará durante este trabalho. Ao longo dos capítulos que se seguem, o leitor encontrará esboços de respostas que tentarão compreender o mamulengo em sua multiplicidade de sentidos. Este exercício busca não complicar ainda mais a questão, mas manter o objeto sob tensão expondo seus processos de construção em diálogo com a contemporaneidade. Muitas vezes fui surpreendida, durante esta pesquisa, obrigando-me a ampliar ou transformar meus entendimentos do mamulengo. Por estar acompanhando alguns destes mamulengueiros desde 1997, frequentemente me confrontei com surpresas, novidades e contradições, que talvez só uma pesquisa de longa duração poderia evidenciar. O aparecimento de novas categorias, ou usos diferenciados de palavras e expressões fundamentais empregadas pelos mamulengueiros, além da ampliação da presença do mamulengo em diversos circuitos culturais, que não os da Zona da Mata, são alguns dos problemas com que me deparei. Podemos definir em linhas gerais o mamulengo como sendo uma forma específica de teatro de bonecos, cuja região de atuação mais evidente é a Zona da Mata pernambucana. O mamulengo é um teatro do riso que comporta um corpo bem definido de personagens que encenam passagens, isto é , enredos curtos que servem de guia para o mestre improvisar, através da combinação de recursos diversos tais como: as loas ou glosas de aguardente, como também são chamadas 2 , que são ditas pelos personagens para apresentá-los ou como comentário verbal de situações; a música, fundamental na representação, sendo executada ao vivo por um conjunto de tocadores escolhidos pelo mestre; e a presença do Mateus, que se posiciona na frente da barraca e faz a mediação 1 Zé de Vina iniciando uma brincadeira de mamulengo. 2 Loas são versos, improvisados ou não, ditos pelos personagens do mamulengo que se tornam marca de alguns. Segundo os mamulengueiros as loas são inventadas em rodas de homens reunidos para beber cachaça. Seria um divertimento decorrente das ‘lapadas de Pitú’. Por isso também são conhecidas como “glosas de aguardente”. 18
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mamulengo dessas instituições é
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5. João Nazaro segurando uma de su
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se em vez de passearmos por um cen
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que se faz na Zona da Mata. Então,
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pesquisadores de mamulengo”, por
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também de um Maracatu rural 52 . P
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No caminho de volta para Lagoa do I
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João Limoeiro - Ciranda - Carpina
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Valente, Roberto Ribeiro, Augusto C
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mais ainda, mais forte... eu gosto.
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aplicada por antropólogos, especia
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deste primeiro tipo de cavalo-marin
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ombo, triângulo, pandeiro e ganzá
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28. Martelo, o Mateus do cavalo-mar
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apropriar criativamente e surpreend
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figura aqui mais nunca. Enquanto a
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Capitão: Ô Caroca! Caroca: Pronto
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Caroca: Capitão! Capitão: Pronto!
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30. Caroquinha e Catirina - bonecos
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dizer local, vem “cortando tesour
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de uma surra que levou Cantam: ô l
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Mateus: Virida ou vida? Bambu: (can
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33. Diabo - feito por Zé Lopes 34.
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35. Vila Nova - feito por Zé Lopes
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43. João Nazaro segurando seus cav
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de caboclo de maracatu. Já brinque
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maracatu... tem a toada, tem canto
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151 O circo eu aprendi assim, assis
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meu parceiro... Aí, a esposa dele
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público, e não o aspecto típico,
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Mané Barros: Tem. Tinha um Caboclo
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159 Essas loas de xangô eu aprendo
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Prifino morava no sítio Queceque,
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“cabeça feita” na umbanda, no
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mas percebo em seu discurso, uma te
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de uma maneira geral. Muito haveria
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Capítulo 3 - Tornar-se mestre: apr
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de sua utilização, contribuem par
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173 quais elas foram produzidas, ou
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175 Zé de Vina ainda nos chama ate
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mamulengueiros também iam aparecen
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trabalhava no coice, era discípulo
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não num sentido textual, mas sim c
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que diz, que mestre de mamulengo, v
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digo “Não senhor, meu chefe, que
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escravos, ou se o mamulengo nasceu
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3.2. O aprendiz: aprendizado de Zé
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Quando vi o primeiro mamulengo com
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coragem dentro da barraca, criando
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arraca, não é que ele ensinava, e
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somava-se a habilidade que tinha co
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Adriana: Queria que você falasse t
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A idéia de projeto individual, da
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próprios mamulengueiros reconhecem
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O que é que seja um artista? Um ar
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fazendo pontes mais concretas com a
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Brasileiro. Aí, eu conheci duas pe
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esposa, e a recitação de loas e p
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da habilidade do mamulengueiro com
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Adriana: E como é que é o mulungu
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Interessante notar que na fala de t
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68. Zé das Moças, de 82 anos, e o
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mamulengueiros presentes pediu para
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mostravam reticentes quanto a essas
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Também é interessante o que Saúb
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oneco apoiado ao chão, e que permi
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Nacional de Artes e Negócio). Seu
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Saúba: Não, não tem nada a ver..
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fazer lembrancinha de aniversário,
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nas capitais; e de mamulengueiros,
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estudos com as idéias dos moviment
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267 composição de sua própria ar
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Em relação ao mamulengo propriame
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onecos. Os bêbados entusiasmaram-s
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o coco de embolada, o coco de roda,
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Este fato me chamou atenção. Se o
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Aquela brincadeira em Apoti continu
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de campo, principalmente o de 2004,
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Divina 271 / o Mesmo Zé do Rogão
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espeito desses artistas, que pratic
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altíssimos, em detrimento aos dos
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apropriação simbólica de manifes
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público, cumprimentando o público
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Adriana: Outro dia até, Biu Tomás
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praqui e pracolá, um quer de um je
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prato, no terreiro, num arruma nem
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Zé Lopes: Não, precisa os políti
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conhecer práticas e saberes como o
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Poderia fazer como diz o poeta 291
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329 auto sacramental, sátira de co
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específica para cada um desses tea
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elementos são semelhantes, como: a
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mamulengueiros, além é claro de s
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esconder entre o animal e o persona
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AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta
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BITTER, Daniel. O Movimento Armoria
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CARVALHO, Luciana Gonçalves de. A
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CRUIKSHANK, Julie. “Tradição or
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FOURNEL, Paul (ed.). Les Marionnett
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HALBSWACHS, Maurice. “Les cadres
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LEVI, Giovanni. “Usos da biografi
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_____. Uma categoria do espírito h
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PEREIRA, Edmundo. “Benditos, toan
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SCHUBERT, Rose (Hg.). Rukada: Puppe
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_____. From Ritual to Theatre: The
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