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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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apresentação estipulado pelo mamulengueiro, alimentação para os brincantes e a<br />

obtenção das licenças. Como relata Zé de Vina: 16<br />

O dono da casa pagava aquela licença, pagava um quilo de caborete, dava o jantar dos<br />

menino e ia tirar o dinheiro no terreiro, na sorte. (...) Quando era de manhã, o<br />

brinquedo era, digamos, ia brincar por 100 contos. Tinha terreiro naquele tempo não<br />

tinha outra brincadeira, ele tirava 150, 200, 300, o que tirasse. Eu só tinha conta com<br />

aquele 100 conto. E quando ele só tirava 30, 40, 50, 60, ele inteirava do bolso dele e<br />

pagava o mamulengo.<br />

Em 2004, acompanhei Zé de Vina numa brincadeira na véspera de São João 17 , no<br />

município de Apoti. No caminho passamos pelas antigas terras onde o avô de Zé<br />

trabalhara. Ele lembrou de histórias e de apresentações de mamulengo na região, há uns<br />

30 anos atrás. Entre elas, a de Mané Jeremias, dono de um dos sítios daquela localidade,<br />

que teria morrido engasgado no pão doce. Em conversa com Luís Preto, Zé ia mostrando<br />

na estrada os sítios em que brincavam, muitas vezes de graça, somente pela festa, onde<br />

“botar o prato” 18 era a prática mais comum de arrecadar dinheiro. Nessas apresentações<br />

aconteciam muitas atividades no mesmo espaço social, uma espécie de quermesse e<br />

reunião social, onde acontecia de tudo: namoros, acertos de conta, negócios, comércio,<br />

confraternização, apostas, campanha política, etc. Ele nos conta que: 19<br />

Tinha uma mesa de café muito grande que eles botava. Tinha outra, encostada, de<br />

cachorro-quente. Tinha um botequim no terreiro, todo cobertinho de palha de coco,<br />

que nem um palhoção. Duas, três mesas de jogo pro pessoal bater jogo, pagando.<br />

Pagava, e ele pagava o dinheiro do terreiro também, e tudo ali ajudava. (...) a gente<br />

16 Entrevista em Lagoa de Itaenga – PE, agosto de 1999.<br />

17 Essa brincadeira será objeto de investigação em outro capítulo.<br />

18 “Botar o prato” significa “passar o chapéu”, colocando passagens e situações apropriadas para conseguir<br />

dinheiro da audiência. Durante alguma brincadeira proposta pelo mestre, tais como o batizado do filho de<br />

Praxédio e Flor do Mundo, ou o cuscuz que Chica do Cuscuz oferece ao público versando, etc, o Mateus<br />

vai até a pessoa e pega a contribuição, daí diz para o mamulengueiro quanto conseguiu e de quem. O<br />

mamulengueiro por sua vez responde com um reconhecimento: “Bravos a dona ‘fulana’, que botou a<br />

sorte...”<br />

19 Entrevista em Lagoa de Itaenga – PE, agosto de 1999.<br />

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