16.04.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mamulengo. É claro, a criação de personagens também ocorre. Zé Lopes gosta de<br />

experimentar e criar bonecos a partir de idéias que vai amadurecendo, mas também corta<br />

aleatoriamente, dando feição a um boneco até encontrar uma forma que lhe convenha. O<br />

mais comum, entretanto, é receber uma encomenda ou necessitar fazer determinado<br />

personagem; então esculpe o boneco com as características pré-determinadas. Essa<br />

inspiração no cotidiano é recorrente entre os mamulengueiros artesãos, como nos relata<br />

Tonho: 204<br />

Adriana: Você estava falando do espírito, do saber do mamulengo... Da onde você acha<br />

que vem esse saber?<br />

Tonho: Acho que vem do povo mesmo, né? Porque as histórias, as histórias são todas<br />

inspiradas no povo... inspiradas na vida, na vivência do mestre com a família, com o<br />

vizinho, com o povo... com o povo mesmo. As histórias são histórias que eu não sei se<br />

aconteceu ou se é fruto do imaginário, mas que têm inspiração direta do povo. O povo,<br />

que eu digo, a massa mesmo, o povo... aquele povo que trabalha, o homem da roça, o<br />

cara que trabalha... O cara, como eu, que trabalha em casa de farinha, que é um<br />

serviço pesado. Então, as histórias vêm daí, as vivências do... o marido com a mulher,<br />

em todas essas coisas. A relação de um amigo com o outro, todas essas coisas são fruto<br />

de inspiração do mamulengo. O mamulengo, o mamulengueiro busca aí, como eu<br />

mesmo faço assim. Eu busco, os meus traços, os meus cortes, eu busco em expressões<br />

que eu vejo em pessoas, que eu acho assim diferente do normal... Então eu coloco nos<br />

meus bonecos essas coisas, o que eu vejo, aí eu ponho nos meus bonecos pra<br />

enriquecer, né?<br />

232<br />

Esta relação entre o artesão, o mamulengueiro e o personagem tem muitas<br />

nuanças. Há intensa troca entre os mamulengueiros, que têm a prática de encomendar<br />

bonecos aos que sabem e costumam fazê-los, mas também emprestam bonecos uns aos<br />

outros. Zé de Vina, por exemplo, pode encomendar uma Cobra a Zé Lopes e um Joaquim<br />

Bozó a Zuza Alves, de Feira Nova; o importante, entretanto, é que as encomendas não<br />

são feitas aleatoriamente, mas sim com vistas à aquisição de um personagem específico.<br />

204 Entrevista em Pombos – PE, julho de 2004.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!