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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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auto sacramental, sátira de costumes e arguta mensagem teológica,<br />

divertimento nordestino e proposição de alcance genérico, herança de<br />

valores tradicionais e saída para uma vigorosa dramaturgia coletiva,<br />

história concreta e vôo para regiões abstratas, mamulengo e<br />

metafísica, a peça inscreve-se, sem favor, na vanguarda incontestável<br />

do palco moderno”.<br />

Em Alcure (2001), procurei também estabelecer associações deste tipo aplicando-<br />

as às farsas atelanas 294 e a commedia dell’arte. Na época fui impulsionada a escolher<br />

estas formas teatrais como objeto de comparação, pois percebia semelhanças estético-<br />

estruturais, muitas vezes não identificáveis à primeira vista, entre elas e o mamulengo,<br />

características estas, listadas por Jacobbi 295 (1956: 19), em análise da influência da<br />

commedia dell’arte na obra de Carlo Goldoni:<br />

“presença das máscaras; tradição dos enredos (contínua repetição e<br />

readaptação de determinadas histórias, como a dos dois gêmeos, a do<br />

velho avarento burlado e roubado por uma moça); pornografia;<br />

mistura entre linguagem literária e gíria popular; valores rítmicos de<br />

representação, com abundância de gestos típicos, movimentos<br />

dançados, tendência ao ballet”.<br />

Procurei fazer um estudo de personagens catalogados em levantamentos que<br />

realizei no mamulengo de Zé Lopes e de Zé de Vina, identificando o artesão dos bonecos,<br />

com quem aprendeu determinada passagem, descrevendo e analisando estes personagens,<br />

e quando possível, estabelecendo relações entre estes personagens e outros pertencentes a<br />

estas duas tradições citadas acima. Nesta análise, também considerei a dinâmica criativa<br />

das “tradições”, enfatizando a particularidade de cada mamulengueiro. Procurei<br />

estabelecer comparações quanto às características de cada personagem, sem pretender<br />

294 “A farsa ou fábula Atelana, originária da cidade de Atela, na Campania, nos interessa neste esquema de<br />

estudo porque seus atores acabaram assumindo papéis fixos. Tornaram-se estilizações de tipos definidos,<br />

criando a primeira galeria de personagens pré-formados de que temos notícia na dramaturgia ocidental. Em<br />

função deles o espetáculo se desenvolvia a partir de entrechos singelos. Tal processo terá farta<br />

descendência – o mais nobre e conhecido representante é a Commedia dell’Arte, com sua galeria de tipos<br />

eterna e universal” (Rocha Filho, 1986: 32)<br />

295 Cenógrafo, diretor e teatrólogo italiano, Ruggero Jacobbi chegou ao Brasil no anos 50, junto com um<br />

grupo de encenadores italianos, que segundo a historiografia do teatro brasileiro, teriam sido responsáveis<br />

pela modernização do nosso teatro. Jacobbi é um dos pioneiros a trazer para o Brasil o conhecimento desta<br />

forma teatral conhecida como commedia dell’arte.

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