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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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saía do mamulengo porque não tinha outra diversão pra isso. Era o mamulengo<br />

mesmo. Então passava a noite todinha, o sol quente e ia se embora aquele comboio de<br />

gente, tudo com sono, outros bêbados, outros enfadados. Mas o mamulengo era assim,<br />

nós brincava direto. Hoje nós não brinca. Agora, a partir desses anos pra cá é que está<br />

começando mais a se movimentar. Muda muito, muito. Até aquelas apresentações de<br />

mudar. Porque os antigos que brincava mamulengo, que conhecia o que era um<br />

coração mamulengo. Quem faz o coração mamulengo é o mestre que sabe brincar. É<br />

coração mamulengo porque brinca de coração, porque brinca mesmo, porque acha<br />

bonito e gosta de brincar.<br />

Apesar de Zé de Vina frisar o mamulengo, também se apresentavam: o cavalo<br />

marinho, o fandango, a ciranda, havia os improvisos de cantoria, os desafios de pé-de-<br />

parede, os tiradores de coco. Essa espécie de lamento foi repetida por todos os artistas da<br />

região que conheci e entrevistei, por todos os “companheiros da cultura” de Zé de Vina.<br />

Passamos também pela Gameleira, um outro sítio localizado na beira da estrada.<br />

Zé de Vina tirou versos dali, que consegui anotar:<br />

“Gameleira é terra de samba<br />

eu fico tristonho a chorar<br />

quando gameleira voltar<br />

gameleira é de minha obrigação<br />

gameleira não sai do meu coração”.<br />

1.2. Interlocutores, escolhas e história de vida.<br />

Zé de Vina é o principal interlocutor deste trabalho, tal como o curandeiro<br />

Ndembu, Muchona, para Turner (Turner, 2005). Em nosso caso, Zé de Vina tem sua<br />

autoridade de grande mamulengueiro e conhecedor do brinquedo legitimada por quase<br />

todos os pesquisadores, artistas locais, e pelo público da região. Como veremos, construiu<br />

seu aprendizado a partir da observação e da vivência com mamulengueiros antigos. É o<br />

mestre mamulengueiro mais reconhecido pelo seu fazer. Também foi, e ainda é, mestre<br />

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