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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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praqui e pracolá, um quer de um jeito, outro quer de outro... o outro contrata um<br />

errado mesmo... certo, mas quando chega o tempo de pagar, passa... de pagar aqueles<br />

que trabalha comigo avexado atrás de mim, eu não tenho condição de pagar os<br />

bichinhos... adepois chega uma Prefeitura, ganha dois... no dia dez. E no dia dez vou<br />

com os bichinhos e não recebo. Nem no dia vinte. Aí fica tudo se afastando... uns, eu já<br />

tou perdendo uns... agora, não é por mim, é por causa do Estado. Eu trabalho pelos<br />

estados, mas... o Estado me pagando, eu pago todo mundo. E o Estado não me<br />

pagando, eu vou fazer o quê? Se eu tivesse condição, eu pagava todo mundo adiantado,<br />

todo mundo ficava bem satisfeito, né? Eu já tou quase pra dizer, eu tou com fim de<br />

acabar... aí quando eu falo mesmo, nas prefeituras... "Ah, seu Augusto, vamo botar a<br />

cultura pra frente. Faça uma cobrança num estado, numa prefeitura praqui,<br />

pracolá..." Eu digo, eu não sei pedir nada, a ninguém. Só sei pedir a Jesus. "Mas<br />

como é que o senhor faz?" Eu digo, com meu trocadozinho, eu vou comprar uma<br />

roupa, eu vou comer... Pra depois ninguém dizer assim: "Seu Augusto é uma diversão<br />

de cavalo-marinho porque foi a Prefeitura que deu... Foi Prefeito que deu, foi<br />

Vereador... foi Fulano que deu..." Não. Eu possui pra mim e pra meus povo que<br />

trabalha comigo. Tudo é minha essas roupas.<br />

Seu Augusto faz uma conexão entre esta atual dependência da prefeitura e do<br />

estado, com a crise das lavouras de algodão, a decadência da zona rural na Zona da Mata<br />

e o vertiginoso empobrecimento destes trabalhadores, em virtude da transformação desta<br />

paisagem social pela plantation açucareira. Viajando pelas estradas da Zona da Mata é<br />

notável a quantidade de antigos engenhos desativados, dando à paisagem um tom<br />

desolador de abandono. Neste trecho abaixo, seu Augusto fala do aparecimento de um<br />

certo “veneno”, que pode ser um indicativo da crise nas lavouras familiares e do cultivo<br />

tradicional, em detrimento dos grandes latifúndios e de uma agricultura de larga escala,<br />

com a utilização massiva de agrotóxicos. Em sua análise, ele compara esta época, onde os<br />

moradores tinham condições de contratar os brinquedos para se apresentarem nos sítios,<br />

em festas familiares, por exemplo, fato relatado por muitos artistas, inclusive por Zé de<br />

Vina, quando recorrentemente diz que brincava todos os fins de semana. Neste tempo, os<br />

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convidados nas festas também tinham condições de dar trocados quando os artistas

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