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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ...

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categorias como esta da “tradição”. Nesse depoimento, Zé Lopes nos confirma a força e a<br />

consciência da convenção, desenvolvendo com isso a capacidade em jogar com ela, em<br />

inová-la, adaptá-la, em “evoluir a brincadeira”. A impressão é que ele precisa justificar<br />

mais o seu fazer, do que Zé de Vina, por exemplo 173 .<br />

Cada um tem uma maneira diferente de apresentar o mamulengo. O meu eu improviso<br />

muito o que eu já aprendi com os outros mestres. E eu creio que o mamulengo, como a<br />

televisão, o rádio, o teatro, tudo tem que evoluir um pouco, assim a gente fica somente<br />

naquela tradição antiga, não pode. Antigamente o mamulengo era apresentado com<br />

luz de lampião a gás, né? Hoje tem a luz elétrica. Hoje já estou trabalhando com som<br />

no mamulengo, antigamente era feito na garganta. Então a gente tem que evoluir. Se<br />

eu puder fazer um boneco com articulação, todos os meus bonecos com articulação, eu<br />

faço. Eu creio que isso aí a gente tem que criar. A gente tem que evoluir, acompanhar<br />

a evolução do mundo.<br />

É importante que Zé Lopes obteve primeiro o reconhecimento como mestre<br />

mamulengueiro fora do contexto da Zona da Mata. Por exemplo, quando cheguei à<br />

Olinda, em 1997, à procura de um mamulengueiro, o primeiro nome que me foi indicado<br />

pelo museu do mamulengo foi o de Zé Lopes, que costumava se apresentar para turistas<br />

no Alto do Amparo, em Olinda. O fato de ter se tornado conhecido fora do país, como em<br />

Portugal, por exemplo, fez com que ele conquistasse uma clientela independente da Zona<br />

da Mata, onde sua legitimidade como mestre foi mais complicada e mais tardia. Toda<br />

essa experiência fez com que Zé Lopes construísse um discurso de explicação mais<br />

amplo, ampliando suas referências a respeito do boneco, como verificamos nesse breve<br />

diálogo abaixo 174 :<br />

Adriana: E hoje você vive basicamente do quê, Zé?<br />

Zé Lopes: Eu vivo do mamulengo, vivo dos meus bonecos, da confecção dos bonecos...<br />

E apresentação é pouca, mas dá pra viver da confecção dos bonecos.<br />

173 Idem.<br />

174 Em entrevista, em Glória do Goitá, em julho de 2004.<br />

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