Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade
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informações sobre o momento histórico e político em que transcorre a ação<br />
da peça.<br />
No caso das traduções já publicadas, além das exatas 357 notas<br />
que aparecem no <strong>final</strong> dos respectivos atos de Antônio e Cleópatra, na edição<br />
de Cimbeline há 39 notas de rodapé que fornecem informações culturais e<br />
linguísticas importantes para a compreensão do texto e que apresentam as<br />
escolhas tradutórias; na de O conto do inverno, 146 notas que, assim como na<br />
primeira peça traduzida, vêm ao término de cada ato; e na do Primeiro<br />
Hamlet, 114 notas de rodapé com variados esclarecimentos.<br />
A escolha dos títulos a serem traduzidos tem seguido o critério de<br />
privilegiar peças menos conhecidas, ou menos encenadas. Enquanto tragédias<br />
como Rei Lear, Otelo, Macbeth e Romeu e Julieta circulam em português do<br />
Brasil em pelo menos oito traduções diferentes cada uma, três das peças<br />
trabalhadas por O’Shea que se inserem entre os chamados “romances” ou<br />
“peças finais” só eram encontradas, na época em que ele escolheu traduzilas,<br />
no conjunto da obra completa de Shakespeare, em traduções produzidas<br />
nas décadas de 1950 e 1960 (por, respectivamente, Carlos Alberto Nunes e<br />
Cunha Medeiros/Oscar Mendes).<br />
Em linhas gerais, O’Shea, sempre levando em conta que as peças<br />
de Shakespeare foram escritas originalmente para o palco — embora tenham,<br />
ao longo do tempo, adquirido o duplo estatuto de obra dramática e literária<br />
—, procura produzir um texto igualmente teatral, que respeite a distribuição<br />
de prosa/verso e versos brancos/versos rimados do original, empregando<br />
decassílabos para as passagens em verso. Como ressaltam os estudiosos, o<br />
pentâmetro iâmbico usado por Shakespeare reproduz a cadência da fala<br />
em língua inglesa, fazendo com que o verso soe natural aos ouvidos do<br />
público. O desafio dos tradutores é obter um efeito igualmente familiar em<br />
língua portuguesa, reproduzindo a musicalidade da fala brasileira. A opção<br />
pelo verso, no entanto, torna o processo de tradução muito mais complexo,<br />
artesanal, na medida em que é preciso encontrar soluções ao mesmo tempo<br />
concisas e precisas, dirigidas a um público muito distante no tempo e no<br />
espaço da Inglaterra elisabetana. Assim explica O’Shea a sua opção pelo<br />
verso:<br />
Decidi manter em prosa os trechos que em prosa constam do original,<br />
traduzir o blank verse em decassílabos, com ictos marcando, preferencialmente,<br />
a sexta (ou a quinta) e a décima sílabas, e reproduzir os couplets, que<br />
<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011<br />
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