25.06.2013 Views

Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Work que, em certas ocasiões, parece mais real do que seu próprio criador:<br />

“Há muito tempo, é claro, Quinn parou de pensar em si mesmo como real.<br />

Se ele vivesse agora no mundo, seria somente uma cópia, através da pessoa<br />

imaginária de Max Work. Seu detetive precisava ser real. A natureza dos<br />

livros exigia isso” (AUSTER, 2004, p. 9) 18 .<br />

Madeleine Sorapure (1995) explica que, em “City of Glass”, há<br />

uma busca frustrada do detetive por conhecimento autoral (p. 72). Essa<br />

busca é ainda mais frustrante para o leitor que, ao <strong>final</strong> da história, percebe<br />

que não há autor e não há conhecimento autoral em que possa confiar: O<br />

narrador da história permanece anônimo até o <strong>final</strong>, quando <strong>final</strong>mente se<br />

revela, dizendo que sabe apenas parte da história, a parte escrita por Quinn<br />

no caderno vermelho. Da mesma forma, não há como localizar os autores<br />

ficcionais: Quinn desaparece quando as páginas do caderno acabam e<br />

Stillman faz o check-out de um hotel e também desaparece. Lembrando o<br />

autor Barthesiano, no mundo pós-moderno de “City of Glass”, há várias<br />

figuras autorais, mas todas morrem ou desaparecem no <strong>final</strong>.<br />

Ao <strong>final</strong> da narrativa, é evidente que o “real” e o ficcional se misturam<br />

na cabeça de Quinn, debilitado por permanecer durante vários meses nas<br />

ruas, em busca do Professor Stillman. Por várias vezes, o protagonista se<br />

questiona se o que estava acontecendo era real. Ao <strong>final</strong> da investigação,<br />

diante da não-solução do mistério, Quinn rememora seus passos,<br />

procurando falhas em seu método e questionando a própria sanidade.<br />

Stefano Tani explica que, em narrativas metaficcionais, “o confronto não é<br />

mais entre um detetive e um assassino, mas entre o detetive e a realidade, ou<br />

entre a mente do detetive e seu senso de identidade, o que está<br />

desmoronando, entre o detetive e o ‘assassino’ em si mesmo” (citado em<br />

SORAPURE, 2004, p. 76) 19 . Assim, uma vez que o protagonista é pouco<br />

confiável, não sabemos se os eventos da narrativa realmente aconteceram<br />

ou se foram um produto de sua imaginação.<br />

Além disso, tal como em Marco Polo e Robinson Crusoé, o narrador<br />

de “City of Glass” clama pela fidelidade e veracidade dos fatos. No entanto,<br />

é preciso lembrar que o narrador é, antes de tudo, um leitor que vai conferir<br />

sua própria interpretação à história do caderno vermelho, conforme escrita<br />

por Quinn. É ele(a) quem vai projetar sentido e organizar o texto. Tornamonos,<br />

portanto, leitores de segunda-mão da história de Quinn.<br />

No romance gráfico, à medida que a narrativa se aproxima do<br />

<strong>final</strong>, o desenho se torna mais primário, quase um rascunho, como se Quinn<br />

tivesse a visão embaçada ou como se tivesse perdido o foco no caso<br />

<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011 153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!