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Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

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ser impróprio, em certos aspectos, entender tal mitologia como estruturada<br />

em uma unidade totalmente coesa. Além dos cultos aos mortos – e deuses<br />

– praticados em casa, restritos às famílias, diante do fogo sagrado, mesmo<br />

em uma única cidade, as características de um deus poderiam ser atribuídas<br />

a outros. A hegemonia econômica e política de cidades e territórios, bem<br />

como a apropriação que dessa mitologia se fez pelo império romano – e<br />

do que se fixou em obras como a Odisseia ou a Ilíada –, fizeram com que<br />

tenham prevalecido, no mundo contemporâneo, a impressão de narrativas<br />

e imagens marcadas por essa ideia de coesão e unidade. Deuses e heróis<br />

conservaram-se, porém, como se em um repositório do qual se retiram<br />

desde motivos artísticos, até argumentos e ideias para a filosofia ou a<br />

psicanálise.<br />

As Hespérides, filhas de Atlas, seriam as “Ninfas do poente” e,<br />

ligadas ao ciclo dos Doze trabalhos de Hércules, guardavam, com o auxílio de<br />

um dragão, as maçãs de ouro, frutos da imortalidade. Os nomes Egle,<br />

Ericia e Hesperaretusa designariam o princípio, o meio e o fim do percurso<br />

<strong>final</strong> do sol. “Habitavam o extremo Ocidente, não longe da Ilha dos Bem-<br />

Aventurados, bem junto ao oceano (...) e (em) seu jardim maravilhoso elas<br />

cantam em coro, junto a flores, cujos repuxos têm o perfume da ambrosia...”<br />

(BRANDÃO, 2002, p. 229).<br />

A representação artística das Hespérides, tanto na pintura como na<br />

literatura, foi comum, a partir do século XVI, na Europa atravessada pela<br />

Cultura Greco-Latina. Na literatura portuguesa, Camões coloca-as n’Os<br />

lusíadas, como criaturas que salvam os portugueses de uma cilada dos mouros.<br />

Nas imagens, de modo geral, tem realce a beleza física das ninfas, imersas,<br />

sob árvores e entre flores, em belos jardins. O espaço – e o que ele guarda<br />

– é configurado dessa forma como idealização de um passado distante,<br />

entrecruzando tempos que se projetariam para um tempo futuro utópico.<br />

Como texto poético que se insere em Magma e se relaciona com outros<br />

poemas em que se busca representar uma totalidade – no caso, as regiões<br />

do país, e o próprio país –, diferentemente de outros poemas nos quais a<br />

geografia e o homem podem ser reconhecidos como miméticos, o poeta<br />

teria selecionado um significante pictural e o teria descrito como algo que<br />

se sobrepõe e significa uma realidade. Rosa estruturou seu texto de modo<br />

ecfrástico, redimensionando a mitologia do jardim das Hespérides e<br />

alojando-a no que concebia devesse ser a realidade brasileira.<br />

<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011<br />

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