25.06.2013 Views

Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

carismáticas, valores culturais e assim por diante. Uma adaptação consiste<br />

em uma leitura do romance e a escrita de um filme. (p. 50)<br />

Stam (2006) afirma ainda que, em razão de o processo de<br />

adaptação envolver o discurso do momento em que é produzida, ela acaba<br />

por tornar-se um barômetro das tendências ideológicas do momento em<br />

questão. Para ele, a transposição de obras literárias para o cinema desvenda<br />

características do período e da cultura em que a obra foi originariamente<br />

produzida, bem como do momento em que está sendo adaptada (p. 48).<br />

Muitas das mudanças entre a fonte do romance e a adaptação cinematográfica<br />

têm a ver com ideologia e discursos sociais. Nesse sentido, a questão é se<br />

uma adaptação empurra o romance para a “direita”, ao naturalizar e justificar<br />

hierarquias sociais baseadas em classe, raça, sexualidade, gênero, religião e<br />

nacionalidade, ou para a “esquerda” ao questionar ou nivelar as hierarquias.<br />

Há também “desenvolvimentos desiguais” a esse respeito, por exemplo,<br />

em adaptações que empurram o romance para a esquerda em algumas<br />

questões (como classe) mas para a direita em outras (como gênero e raça).<br />

(STAM, 2006, p. 44)<br />

Dudley Andrew (2009) argumenta que a adaptação é uma forma<br />

peculiar de discurso, que deve ser usada para entender o mundo de onde<br />

ela se origina e o caminho que ela indica. Ele enfatiza que filmes devem ser<br />

estudados como um ato de discurso, em que é necessário haver uma<br />

sensibilidade em relação a esse discurso e às forças que o motivaram. Para<br />

ele, embora a adaptação seja uma constante na história do cinema, a sua<br />

função no momento em que é produzida não o é. Ele postula que as<br />

escolhas para se realizar uma adaptação sugerem muita coisa sobre o<br />

entendimento da indústria cinematográfica, sobre seu papel e aspirações<br />

num dado momento (p. 269-271). O entendimento de Andrew corrobora<br />

o de McFarlane, que postula que a obra adaptada não é meramente uma<br />

adaptação, é também um produto do seu tempo, e esse fato irá marcar o<br />

tipo de adaptação realizada (p. 200).<br />

Qualquer que seja a razão para se realizar uma adaptação, o processo<br />

é um ato de apropriação ou resgate, que envolve um processo de<br />

interpretação e de criação de algo novo (HUTCHEON, 2006, p. 20). A<br />

adaptação significa mais do que simplesmente imitar algo uma vez que ela<br />

“cria uma nova situação áudio-visual-verbal”, moldando novos mundos,<br />

<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011 51

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!