Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade
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por poucos objetos que devem deslizar em determinados momentos da<br />
representação, fazendo as transições da memória entre presente e passado.<br />
Em Uma lição de vida, Vivian Bearing também desenvolve dois papéis<br />
no enredo – o de protagonista e o de narradora – e já no ínicio percebe-se<br />
que a concretização do filme se dá com uma inversão de cenas e cortes de<br />
algumas falas: o que no texto cênico ou hipotexto seria a segunda cena<br />
passa a ser a primeira no filme ou hipertexto; assim como a terceira cena<br />
do texto teatral é intercalada com a primeira, que passa a ser a segunda cena<br />
na adaptação fílmica. Enquanto, no texto cênico, a ação se desenrola<br />
inteiramente na mente da personagem que, nas duas últimas horas de sua<br />
vida rememora partes de sua existência, no texto fílmico, a ação se estende<br />
por alguns meses, que correspondem à estadia de Vivian no hospital,<br />
intercalada por incursões memorialísticas em forma de flashback.<br />
Diferentemente do texto dramático, que se inicia por um prólogo,<br />
no filme, sob um pano de fundo pictural de uma cidade desfocada, a<br />
primeira cena inicia com um close-up 4 do rosto do Dr. Kelekian revelando o<br />
diagnóstico à Vivian, informando de maneira fria e direta que ela está com<br />
câncer (Fig. 1) 5 . Essa técnica de focalização é conceituada por Marcel Martin<br />
(2007, p. 39) como plano de rosto humano, sendo “sem dúvida a que manifesta<br />
melhor o poder de significação psicológico e dramático do filme, e é esse<br />
tipo de plano que constitui a primeira, e no fundo a mais válida, tentativa de<br />
cinema interior”. De acordo com o autor, o primeiro plano revela um<br />
significado psicológico preciso e não apenas um papel descritivo. No filme,<br />
ambos os rostos, do médico e de Vivian são focalizados alternadamente<br />
em primeiro plano, veiculando a forte tensão mental das personagens, sendo<br />
que a câmera passa a ser o olhar de ambos (Fig. 2) e do espectador.<br />
A iluminação, nessa primeira sequência, com uma claridade<br />
exagerada, de acordo com Martin, “serve para definir e modelar [...], para<br />
produzir uma atmosfera emocional e mesmo certos efeitos dramáticos”<br />
(MARTIN, 2007, p. 57). A música estridente que inicia o filme vem de<br />
encontro à atmosfera dramática da cena, que “intervém como contraponto<br />
psicológico para fornecer ao espectador um elemento útil à compreensão<br />
da tonalidade humana do episódio” (MARTIN, 2007, p. 125), ou seja, ela<br />
vem sustentar momentos de revelação da narradora-protagonista ao longo<br />
do filme.<br />
<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011<br />
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