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Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade

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1 Considerações teóricas sobre a memória e a peça memorialística<br />

Sob o ponto de vista filosófico, Henri Bergson, ainda no <strong>final</strong> do<br />

século XIX, foi um dos primeiros autores a estudar o funcionamento da<br />

memória, tratando-a como uma forma de representação individual, ou<br />

seja, como o lado subjetivo de nosso conhecimento das coisas (BERGSON,<br />

1990, p. 23). Em sua obra The Creative Mind: An Introduction to Metaphysics,<br />

publicada pela primeira vez em 1910, Bergson aponta dois modos de<br />

atividade da mente para apreender a realidade: a consciência intelectual, que<br />

capta a aparência do objeto; e a consciência intuitiva-instintiva, capaz de<br />

penetrar na essência do objeto. O filósofo francês também argumenta que<br />

nossos sentimentos e pensamentos presentes são sempre mediados e<br />

modificados pela memória de eventos ocorridos no passado e que estes,<br />

por sua vez, também irão repercutir no futuro, uma vez que presente e<br />

passado coexistem na mente. Desse modo, percepção e lembrança sempre<br />

se interpenetram, o que permite centrar a memória não no passado, mas sim<br />

em constante circulação entre o passado e o presente (CAMATI, 2005, p. 34).<br />

Em relação à crítica literária, a introdução do termo “peça<br />

memorialística” é atribuída a Paul T. Nolan que, no artigo intitulado Duas<br />

peças de memória, analisa os textos À margem da vida, de Tennessee Wiliams, e<br />

Depois da queda, de Arthur Miller. Ele ressalta que essa modalidade dramática<br />

tenta extrapolar os limites do drama tradicional (que mostra a ação) para<br />

chegar ao centro da ação, ou seja, a consciência. No mesmo artigo, Nolan<br />

também articula uma definição do gênero:<br />

A nova “peça de memória”, diferentemente da peça onírica e do drama<br />

expressionista, é uma projeção da consciência e, diferentemente do drama<br />

tradicional de ação, focaliza apenas a ação tal qual é entendida e filtrada pela<br />

mente do protagonista. (NOLAN citado em CAMATI, 2005, p. 36, nossa<br />

tradução)<br />

Tanto na peça Wit: jornada de um poema, quanto na adaptação<br />

fílmica Uma lição de vida, título atribuído ao filme em português, tudo o que<br />

é revelado para o leitor/espectador é filtrado pela mente da narradoraprotagonista<br />

Vivian Bearing, que ora exerce o papel de personagemprotagonista<br />

e ora o de narradora de sua história de vida.<br />

Margaret Edson contribuiu para a revitalização da dramaturgia da<br />

memória com a criação de técnicas inovadoras para a representação dos<br />

<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011<br />

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