Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade
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Todo esse cuidado e dedicação à tarefa tem sido devidamente<br />
reconhecido e valorizado: O’Shea foi um dos dez <strong>final</strong>istas do Prêmio<br />
Jabuti 2008 na categoria “Tradução literária” com a peça O conto do inverno<br />
e menção honrosa na mesma categoria em 2003 com Cimbeline, rei da Britânia.<br />
Um dos aspectos de seu trabalho bastante responsável por esse<br />
reconhecimento é, sem dúvida, a sua maestria no que diz respeito à métrica,<br />
como será analisado a seguir, a partir de um corpus composto por suas três<br />
primeiras traduções publicadas: Antônio e Cleópatra, Cimbeline, rei da Britânia e<br />
O conto do inverno.<br />
O decassílabo nas traduções de José Roberto O’Shea<br />
Antônio e Cleópatra<br />
Em sua primeira tradução shakespeariana publicada, O’Shea<br />
mantém a divisão entre verso e prosa do original, adotando o decassílabo<br />
para traduzir o pentâmetro iâmbico. Nas passagens em verso, para não ser<br />
obrigado a fazer muitos cortes no material semântico, o tradutor adota a<br />
estratégia de aumentar o número de versos por fala — recurso já utilizado<br />
por Manuel Bandeira em sua tradução de Macbeth (v. Martins e Britto, 2009,<br />
p. 140). Para estudar o decassílabo utilizado por O’Shea, escolhemos duas<br />
passagens para análise: (a) a famosa fala de Enobarbus (II, ii) em que o<br />
personagem descreve o primeiro encontro de Antônio com Cleópatra, e<br />
(b) a fala de Cleópatra que fecha o quarto ato.<br />
No texto introdutório de sua tradução de Antônio e Cleópatra, como<br />
já vimos, O’Shea afirma que acentua, “preferencialmente, a sexta (ou a<br />
quinta) e a décima sílaba”. Curiosa a opção pelo icto na quinta sílaba, que<br />
não é acentuada nos dois padrões tradicionais do decassílabo no português,<br />
o heroico (acentos em 6 e 10, com apoio em 2 ou 4) e o sáfico (4, 8 e 10),<br />
nem no martelo-agalopado (3, 6 e 10, com possível apoio em 8), contribuição<br />
brasileira ao repertório de formas do idioma. Vejamos a análise da primeira<br />
passagem, iniciada com o verso “Ao desembarque, Antônio enviou-lhe”<br />
(p. 113). Os números entre parênteses indicam a colocação mais provável<br />
dos acentos secundários nos versos em que temos mais de três sílabas átonas<br />
juntas.<br />
<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011 133