Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade
Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade
Scripta 9_2_link_final.pdf - Uniandrade
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Como o quadro de Magritte, analisado por Clüver, Bryan Talbot<br />
também explora as imagens de forma mista e multimídia, assim como<br />
intermídia. A obra Alice in Sunderland é uma história em quadrinhos<br />
contemporânea que explora a linguagem dos quadrinhos para contar uma<br />
história que não poderia ser feita de outra forma. Também considerada<br />
um romance gráfico, a experiência da fusão das mídias a caracteriza como<br />
um exemplo de textos intermidiáticos que não são separáveis fisicamente,<br />
ou como textos mistos, em que a menor alteração acarretaria em perda de<br />
significado.<br />
Outro aspecto que destaca a obra por sua sofisticação é o uso de<br />
elementos intertextuais. O autor, inspirado nos livros e na biografia de Lewis<br />
Carroll, assim como nas histórias da região da cidade de Sunderland, criou<br />
uma obra visual com vários níveis de leitura. O leitor precisa estar atento<br />
para as várias menções à vida e obra de Carroll, assim como às informações<br />
sobre manifestações culturais locais. O leitor que conhece as histórias das<br />
aventuras de Alice e outros fatos da vida do autor, provavelmente achará<br />
interessante a forma como o jogo de referências ocorre – jogo próprio de<br />
produções contemporâneas com várias citações de diferentes obras e autores.<br />
Segundo Umberto Eco, o jogo das referências não é percebido pelo leitor<br />
de primeiro nível, ou leitor ingênuo, que faz uma leitura mais superficial,<br />
mas sim, pelo leitor de segundo nível, ou seja, o leitor crítico, que percebe<br />
as referências presentes no texto.<br />
O primeiro usa a obra como um dispositivo semântico e é vítima das<br />
estratégias do autor que o conduz passo a passo ao longo de uma série de<br />
previsões e expectativas; o outro avalia a obra como produto estético e avalia<br />
as estratégias postas em ação pelo texto para construí-lo justamente como<br />
leitor de primeiro nível. O leitor de segundo nível é que se empolga com a<br />
serialidade da série e se empolga não tanto com o retorno do mesmo (que<br />
o leitor ingênuo acreditava ser outro), mas pela estratégia das variações, ou<br />
seja, pelo modo como o mesmo inicial é continuamente elaborado de modo<br />
a fazê-lo parecer diferente. (ECO, 1989, p. 129)<br />
O jogo das referências ocorre em forma de homenagens ou<br />
citações, mas também como paródias, explorando relações intertextuais e<br />
intermidiáticas. Apesar de não se tratar de um livro de humor, a obra é<br />
repleta de referências bem humoradas aos livros de Carroll, assim como<br />
<strong>Scripta</strong> <strong>Uniandrade</strong>, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2011 179